sábado, 6 de outubro de 2012

LIBERDADE

Próxima sessão: 2012.10.09

TEMA: Teatro




Responsável pela sessão: António Soares

A sessão de 2012.09.25; Tema: LIBERDADE 

O João, mesmo longe, contribui com este poema de Miguel Torga:

Liberdade

Liberdade, que estais no céu... 
Rezava o padre-nosso que sabia, 
A pedir-te, humildemente, 
O pio de cada dia. 
Mas a tua bondade omnipotente 
Nem me ouvia. 

— Liberdade, que estais na terra... 
E a minha voz crescia 
De emoção. 
Mas um silêncio triste sepultava 
A fé que ressumava 
Da oração. 

Até que um dia, corajosamente, 
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado, 
Saborear, enfim, 
O pão da minha fome. 
— Liberdade, que estais em mim, 
Santificado seja o vosso nome.    

Miguel Torga, in 'Diário XII'       


António Gil, trouxe-nos uma adaptação de um texto do livro “Liberdade, a coragem de ser genuíno”, de Osho - Edição Bertrand – Colecção 11/17:   

Caminho para a Liberdade
Este mundo é muito bonito mas está nas mãos erradas. O que eu quero dizer é, por favor, não seja você as mãos erradas, só isso. 
Eu não ensino a revolução, eu ensino a rebelião, e a diferença é muito grande.
A revolução precisa que você se organize como partido, como exército, e que lute contra os inimigos. A rebelião significa que você, como individuo, é um rebelde; que sai simplesmente de toda esta rotina. Pelo menos não deve destruir a natureza.
A liberdade não tem nada que ver com o exterior; uma pessoa pode ser livre mesmo numa prisão. A liberdade é algo interior; é um privilégio da consciência. Você pode ser livre em qualquer parte – até acorrentado, numa prisão... - ou pode estar preso fora da prisão, na sua própria casa, visível e absolutamente livre, mas sendo um prisioneiro se a sua consciência não for livre.
… 
No que diz respeito ao exterior, você nunca pode ser absolutamente livre. Há milhões de pessoas à sua volta. No exterior, a Vida tem de ser um compromisso. 
Um homem compreensivo respeitará tanto a sua própria liberdade como respeitará a liberdade dos outros. É um entendimento mútuo: “Eu respeito a tua liberdade, tu respeitas a minha liberdade, e ambos podemos ser livres”, mas é um compromisso. Eu não tenho de interferir consigo, eu não sou livre para o invadir.
A Vida é uma interdependência. E você não é interdependente apenas das pessoas, é interdependente de tudo. Se cortar todas as árvores, vai morrer, porque elas estão constantemente a fornecer-lhe oxigénio. Você está dependente delas - e elas estão dependentes de si, porque lhes dá constantemente dióxido de carbono. 
Tudo é uma interdependência. Aprecie-a. Você está dependente dos outros e os outros estão dependentes de si. É uma fraternidade, é uma relação de família. Mesmo a folha de erva mais pequena está relacionada com a maior estrela.
Mas no mundo interior, no reino interior, você pode ser absolutamente livre. Toda a questão é do foro do interior. Compreenda que a interdependência exterior é necessária, é inevitável. Aceite-a. Quando não se pode fazer nada em contrário, a aceitação é a única saída. E aceite-a com alegria, não com resignação. Isto é o nosso universo; nós somos parte dele. Nós não somos ilhas, somos parte de todo um continente.
Um rebelde é alguém que não reage contra a sociedade, que compreende o seu jogo e simplesmente desliza para fora dela. Ela torna-se irrelevante para ele. Ele não é contra a sociedade. 
E essa é a beleza da rebelião: é a liberdade e liberdade significa compreensão.



Helena Policarpo, leu Liberdade, de Fernando Pessoa:











LIBERDADE
de Fernando Pessoa

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa…

Livros são papeis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
a distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando em vez de criar, seca.

E mais do que isto
é Jesus Cristo,
que não sabia nada de finanças,
nem consta que tivesse biblioteca…


António Soares, leu:
O VAGABUNDO DO MAR

De Manuel da Fonseca



Sou barco de vela e remo
sou vagabundo do mar      
Não tenho escala marcada
nem hora para chegar:      
é tudo conforme o vento,
tudo conforme a maré…  
Muitas vezes acontece    
largar o rumo tomado    
Da praia p’ra onde ia…  
Foi o vento que virou?    
foi o mar que enraiveceu
E não há porto de abrigo?
ou foi a minha vontade  
de vagabundo do mar?  
Sei lá .                        
Fosse o que fosse          
não tenho rota marcada
ando ao sabor da maré.
É por isso, meus amigos,
que a tempestade da Vida
me apanhou no alto mar.
E agora                        
queira ou não queira,    
cara alegre e braço forte:
estou no meu posto a lutar!
Se for ao fundo | acabou-se.
Estas coisas acontecem  
aos vagabundos do mar.


Mariana, trouxe-nos uma canção de :

Ermelinda Duarte : Somos livres (uma gaivota voava voava)












Letra e música: Ermelinda Duarte e Javier Tamames.

Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.

Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.

Uma gaivota voava, voava,
assas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.

Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo qualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.

Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.

Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás.

Cármen, Vitória e Vasco, leram,
Da autoria da Cármen (Cármen Ezequiel):











EMANCIPAÇÃO DE UM POVO

Libertas as mágoas duma saudosa verdade
Importa a este nobre povo valer
Bebem ódios como a água da fonte
Em campos de batalha, cegos de não saberem viver!
Regressa, Portugal, tua liberdade ausente?!
De uma era, outrora, ímpar…
Armas, que tens, presente: força, vontade, sabedoria!
Donos duma realidade desigual
Entre a espada e a parede levantar!
(de 27 agosto 2007, in Coletânea INTEMPORAL, editorial Minerva, Fev. 2008)


ALMA LIVRE

Lentamente, devagarinho, abrem-se as asas ao vento…
São livres! Sou livre?
Um país em chamas. De um sol quente, forte! Ou, de uma hipocrisia vil?
As ruas cobertas de uma água derretida.
Os cheiros robustos de um prazer fétido.
Os ventos que sopram numa encruzilhada, … contrários a si mesmos.
Os sons da rua! Ensurdecedores até aos ossos.
Lágrimas que rolam, gritos calados e feridas abertas…
Em paz estou. São livres! Sou livre?
Ódios e religião. Corpos cobertos de preto… a dor! A COR?
Opressão é a paixão dos ricos.
Fome é a gula dos pobres.
São livres! O seu espírito voa pelo mundo fora.
Sou livre? No conforto da minha casa.
Na paz interior num consumismo tresloucado,
No egoísmo do meu bem estar…
A força que importa levantar
É a esperança numa paz diferente,
É o grito de uma liberdade, dos nossos íntimos, ausente.
Lentamente, devagarinho, abrem-se as asas ao vento…
São livres?
Sou livre… para divagar!

(de 29 agosto 2007, in Coletânea INTEMPORAL, editorial Minerva, Fev. 2008)






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