terça-feira, 31 de julho de 2012

2012.07.31 - Beijo


 Rosa, leu

CAIXINHA DE BEIJOS
Certo dia um homem chegou a casa e ficou muito irritado com a sua filha de três anos.Ela havia apanhado um rolo de papel de presente dourado e  estragou-o fazendo um embrulho.

Porque o dinheiro fosse pouco e o papel muito caro, ele não poupou recriminações para a garotinha, que ficou triste e chorou.

Naquela mesma noite, o pai encontrou num canto da sala, um embrulho dourado não muito bem feito, no local onde a família colocara os presentes para serem distribuidos no dia de Natal .

Na manhã seguinte, logo que despertou, a menina correu para ele com o embrulho nas mãos, abraçou-o forte, encheu seu rosto de beijos e entregou-lhe o presente, e disse:

Isto é para si, paizinho!

Ele sentiu-se muito envergonhado com com a sua furiosa reação do dia anterior.
Mas, logo que abriu o embrulho, voltou a explodir. Era uma caixinha vazia.

(Gritou para a filha):
Você não sabe que quando se dá um presente a alguém, se coloca alguma coisa dentro da caixa?

A criança olhou para ele, com os olhos cheios de lágrimas e disse:

Mas, paizinho, a caixinha não está vazia. Eu soprei muitos beijos para dentro dela.
Todos para si, paizinho.

O pai quase morreu de vergonha. Abraçou a menina e suplicou que ela o perdoasse.

Dizem que o homem guardou a caixa dourada ao lado da sua cama por anos.
Sempre que se sentia triste, chateado, deprimido, ele procurava na caixa um beijo imaginário e recordava o amor que sua filha havia posto ali.

De uma forma simples cada um de nós, humanos, temos recebido uma caixinha dourada, cheia de amor incondicional de nossos pais, de nossos filhos, de nossos irmãos e amigos.

Entretanto , nem sempre damos conta. Estamos tão preocupados com o ter, com valores do mundo, que as coisas pequenas não são percebidas por nós.

Assim, a esposa não valoriza o ramalhete de flores do campo que o marido lhe oferece, no dia do aniversário. É que ela esperava receber uma valiosa jóia e não aquela insignificância.

O marido nem agradece o fato da esposa, no dia em que comemoram  mais um ano de casados, esperá-lo com um jantar simples, a dois, em casa. Ele estava à espera de uma comemoração em grande estilo, ruidosa, cercado de amigos e muitos comes e bebes.

Os pais não dão importância àquele cartão meio amassado que os pequenos trazem da escola, pintado com as mãos de quem apenas ensaia a arte de dominar as tintas e os pincéis nas suas mãos pequeninas.

Eles estão mais envolvidos com as contas que a escola está cobrando e acreditam que pelo valor da mensalidade paga, os professores deveriam ter enviado um presente de valor.

Pois é, muitos de nós não encontramos os beijos na caixinha dourada. Apenas vemos a caixinha vazia.


Os convidados da Rosa

Lena e João, trouxeram Catarina Furtado e a Ala dos Namorados, Solta-se o beijo


















Espreito por uma porta encostada
 Sigo as pegadas de luz
 Peço ao gato "xiu" para não me denunciar
 Toca o relógio sem cuco
 Dá horas à cusquice das vizinhas e eu
 Confesso às paredes de quem gosto
 Elas conhecem-te bem

Aconchego-me nesta cumplicidade
 Deixo-me ir nos trilhos traçados
 Pela saudade de te encontrar
 Ainda onde te deixei

Trago-te o beijo prometido
 Sei o teu cheiro mergulho no teu tocar
 Abraças a guitarra e voas para além da lua

Amarro o beijo que se quer soltar
 Espero que me sintas para me entregar
 A cadeira, as costas, o cabelo e a cigarrilha
 A dança do teu ombro...

E nesse instante em que o silêncio
 É o bater do coração
 Fecha-se a porta
 Pára o relógio
 As vizinhas recolhem
 Tu olhas-me...
 Tu olhas-me...

Trago-te o beijo prometido
 Sei o teu cheiro, mergulho no teu tocar
 Abraças a guitarra e voas para além da lua

Amarro o beijo que se quer soltar
 Espero que me sintas para me entregar
 A cadeira, as costas, o cabelo e a cigarrilha
 A dança do teu ombro...

E, nesse instante em que o silêncio
 É o bater do coração
 Fecha-se a porta
 Pára o relógio
 As vizinhas recolhem

Solta-se o beijo, o gato mia...
 Solta-se o beijo, o gato mia...
 Solta-se o beijo, o gato mia...
 Tu olhas-me...
 Tu olhas-me...
 Solta-se o beijo, o gato mia...
 Solta-se o beijo, o gato mia...
 Solta-se o beijo, o gato mia...


Mariana, leu

O BEIJO MATA O DESEJO

MOTE

«Não te beijo e tenho ensejo
Para um beijo te roubar;
O beijo mata o desejo
E eu quero-te desejar.»

GLOSAS

Porque te amo de verdade,
'stou louco por dar-te um beijo,
Mas contra a tua vontade
Não te beijo e tenho ensejo.

Sabendo que deves ter
Milhões deles p'ra me dar,
Teria que enlouquecer
Para um beijo te roubar.

E como em teus lábios puros,
Guardas tudo quanto almejo,
Doutros desejos futuros
O beijo mata o desejo.

Roubando um, mil te daria;
O que não posso é jurar

António Aleixo In “Este livro que vos deixo”















Helena P., leu

A BÍBLIA - O CÂNTICO DOS CÂNTICOS
(excertos das “Belezas da amada” e “Procurar o amado”)

     Belezas da amada

Ele
Toda  bela és tu, ó minha amada,
 e em ti defeito não há.
Vem do Líbano, esposa,
vem do Líbano, aproxima-te.
Desce do cimo de Amaná,
do cume do Senir  e do Hermon,
dos esconderijos dos leões,
das tocas dos leopardos.

Roubaste-me o coração, minha ir-
mã e minha noiva,
roubaste-me o coração com um
     dos teus olhares,
com uma só conta do teu colar.
Como são doces as tuas carícias,
    minha irmã e noiva!
Muito melhores que vinho são as
     tuas carícias,
mais forte que todos os odores
É a fragrância dos teus perfumes.
Os teus lábios destilam doçura, ó
      minha noiva;
há mel e leite sob a tua língua,
e o aroma dos teus vestidos
é como o aroma do Líbano.

      Procurar o amado

   Ele
Abre, minha irmã e amiga, pom-
   ba incomparável!
Tenho a cabeça coberta de or-
valho,
E os meus cabelos, das gotas da
     noite.

   Ela
Já despi a minha túnica.
Vou tornar-me a vestir?
Já lavei os meus pés.
Vou sujá-los de novo?
Meu amado passou a sua mão
     pela fresta
e as minhas entranhas estreme-
    ceram por ele.
Levantei-me para abrir ao meu amado;
as minhas mãos gotejavam mirra,
Os meus dedos eram mirra escor-
    rendo
nos trincos da fechadura.
Fui abrir ao meu amado.













António Soares, leu

O BEIJO de Alexandre O´Neil,
 in “No Reino da Dinamarca”

Congresso de gaivotas neste céu
Como uma tampa azul cobrindo o Tejo.
Querela de aves, pios, escarcéu.
Ainda palpitante voa um beijo.

Donde teria vindo! (Não é meu…)
De algum quarto perdido no desejo?
De algum jovem amor que recebeu
Mandado de captura ou de despejo?

É uma ave estranha: colorida,
Vai batendo como a própria vida,
Um coração vermelho pelo ar.

E é a força sem fim de duas bocas,
De duas bocas que se juntam loucas!
De inveja as gaivotas a gritar…





















De António Gil,

A saga do... beijo

Dia 17 de Julho 2012.
É sorteado na sessão do Leituras em Alta o tema para o próximo encontro: Beijo.
Penso (logo existo...) nada mal... “O Beijo da Mulher Aranha”, com a Sónia Braga...
Volto a pensar... amanhã ataco a coisa...
Dia 18 de Julho 2012
Li um livro há algum tempo (anos, claro...) “O Beijo da Palavrinha”, do Mia Couto... muito engraçado. Vou procurar!
Dia 19 de Julho de 2012.
Bem... hoje não consigo dar a volta ao Beijo... O trabalho, sempre o trabalho...
Dia 20 de Julho 2012
Hoje não pode ser... tenho de dar um empurrão nas páginas que faltam... logo à noite procuro na net... É o procuras... reunião de Condóminos. Lá se foi o Beijo.
Dia 21 de Julho 2012
Hoje só carros... nem tenho tempo para ir à Internet procurar o Beijo...
Dia 22 de Julho 2012
Mais carros e o regresso... pode ser que chegue a horas a casa... Não querias mais nada!?
Dia 23 de Julho 2012
Tenho que ir com a minha Mãe ao médico... não seria grave se fosse aqui, mas ela está em Estremoz.
Nada de Beijo... só o que dei à minha Mãe à chega lá.
Dia 24 de Julho 2012
Ida ao médico... a Badajoz... lá se foi o dia e... de Beijo só o da despedida da minha Mãe antes de regressar a casa... já ao fim do dia.
Dia 25 de Julho 2012
Bolas... ainda há coisas para fazer para a revista deste mês... e isto está complicado... pode ser que logo à noite.
Qual quê? Com a ida ao Teatro Meridional...
Dia 26 de Julho 2012
Carago... a 4L está a perder água tenho que ir para o mecânico, no Casal da Mina. Um dia perdido... almoço e jantar com o mecânicos e os mais mil mecânicos de 4L que por lá apareceram.
Dia 27 de Julho 2012
Hoje não há Beijo para ninguém... tenho de acabar mais um texto e ir para Queluz.
Dia 28 de Julho 2012
Saio às 6 horas para Coimbra... o dia termina em Cantanhede ao som do Toni Carreira... só me faltava isto!!
Dia 29 de Julho 2012
Cantanhede e carros, mais carros e carros... pode ser que me despache e volte para casa ainda a tempo de procurar na net “O Beijo da Palavrinha”.
Dia 30 de Julho 2012
Despachar estas coisas e vou procurar o Beijo... não está. Não aparece. Mas foi, há uns anos, do Plano Nacional de Leitura! Não está! E hoje não há Biblioteca. Vou amanhã de manhã.
Dia 31 de Julho 2012
Bolas!!! a Biblioteca só abre às 15 horas. Depois de almoço dou lá um salto.
18 horas... finalmente consigo chegar à Biblioteca... Mia Couto... cá está! Estou salvo! Não há o “O Beijo da Palavrinha”!!!!!
19 horas... olha está a aqui a Anais Nïn... há que tempos que não leio nada dela... ups... são horas de dar um salto a casa e ir para o Leituras em Alta!
Sem o Beijo, claro!

Vasco e Élia, leram a sua interpretação de:













Horas Rubras de Florbela Espanca, in "Livro de Sórar" e
O Beijo Mata o Desejo de António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."


Não te beijo e tenho ensejo
Para um beijo te roubar;
O beijo mata o desejo
E eu quero-te desejar.»

Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos rubros e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas...

Porque te amo de verdade,
'stou louco por dar-te um beijo,
Mas contra a tua vontade
Não te beijo e tenho ensejo.

Oiço olaias em flor às gargalhadas...
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p'las estradas...

Sabendo que deves ter
Milhões deles p'ra me dar,
Teria que enlouquecer
Para um beijo te roubar.

Os meus lábios são brancos como lagos...
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras...


E como em teus lábios puros,
Guardas tudo quanto almejo,
Doutros desejos futuros
O beijo mata o desejo.

Sou chama e neve e branca e mist'riosa...
E sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!

E houve presentes:



Helena A. e Alexandra F., leram a sua versão de Save Your Kisses for me, de letra e música de Tony Hiller, Lee Sheriden e Martin Lee:


Guarda os teus beijos para mim 




Custa tanto ir embora.
Não posso ficar agora.
Mas digo uma coisa antes de partir:
Amor,
(Amor) tu bem sabes!
Estarei a pensar em ti
E em tudo o que tu fazes.
O tempo está a passar.
Tenho de me pôr a andar,
Mas tu prendes-me com o teu sorrisinho.
Amor,
(Amor) sem chorar,
Farás tudo bonitinh’ e
Prometes que vais guardar… os teus bei-…
jinhos p’ra mim.
E eu guardo os meus para ti.
Adeus, bebé, adeus.
Não chora, amor, não chora.
Vou sair pela porta,
Mas breve estarei de volta, com …
Beijos pra ti.
Guarda os teus para mim.
Vá lá, amor, vá lá.
Fica aqui a brincar.
Não m’ estejas a prender,
Pois sabes que eu vou dizer:
Que tenho d’ ir trabalhar,
P’ra nos poder sustentar.
Mas farei tudo para voltar p’ra ti.
Amor,
(Amor) sabes bem,
Quanto gosto de ti.
Peço que guardes também… os teus bei-…
jinhos p’ra mim.
E eu guardo os meus para ti.
Adeus, bebé, adeus.
Não chora, amor, não chora.
Vou sair pela porta,
Mas breve estarei de volta, com…
Beijos p’ra ti.
Guarda os teus para mim.
Vá lá, amor, vá lá.
Fica aqui a brincar.
Não peças p‘ra ficar.
Vais tu ficar a guardar… os…
Beijos p’ra mim.
Guarda todos para mim.
Adeus, bebé, adeus.
Não chora, amor, não chora.
Queres guardá-los p’ra mim,
Mesmo que só tenhas três?... 

Adaptação para português da conversa dos papás para o filhote



quarta-feira, 18 de julho de 2012

Próxima Sessão: 2012.07.31

O tema da sessão será Beijo



A responsável pela sessão será a Rosa

terça-feira, 17 de julho de 2012

2012.07.17 - Lua

Foto do grupo de hoje

Vasco e João traduziram livremente, The Whole of the Moon, de Mike Scott, da banda Waterboys.

THE WHOLE OF THE MOON
I pictured a rainbow  Pintei um arco-íris
you held it in your hands  tem-lo na tua mão
I had flashes  eu tive uns rasgos
but you saw the plan mas tu viste o plano
I wandered out in the world for years andei no mundo por anos
you just stayed in your room  tu apenas ficaste no teu quatro
I saw the crescent eu vi o crescente
You saw the whole of the moon  tu viste a lua toda
The whole of the moon...  toda a lua...
You were there in the turnstiles tu estavas lá em passagem
with the wind at your heels com o vento nos teus calcanhares
you stretched for the stars estendeste-te para as estrelas
and you know how it feels e sabes como te sentes
to reach too high, too far, too soon ao chegares demasiado alto, demasiado longe, demasiado cedo
You saw the whole of the moon tu viste a lua toda
I was grounded  Fiquei enterrado
while you filled the skies  enquanto tu preenchias o céu
I was dumbfounded by truth Fiquei admirado com a verdade
you cut through lies enquanto tu cortavas as mentiras
I saw the lone empty valley  Eu vi o vale solitário vazio
you saw Brigadoon  tu viste Brigadoon
I saw the crescent  eu vi o crescente
You saw the whole of the moon tu viste a lua toda
I spoke about wings Eu falava sobre asas
you just flew  tu apenas voavas
I wondered I guessed and I tried Eu me perguntava, imaginava e tentei
you just knew  tu já sabias
I sighed  Eu suspirei
but you swooned mas tu desmaiaste
I saw the crescent eu vi o crescente
You saw the whole of the moon tu viste a lua toda
The whole of the moon... toda a lua...
With a torch in your pocket  Com uma tocha no teu bolso
and the wind at your heels e com o vento nos calcanhares
you climbed on the ladder subiste a escada
and you know how it feels e sabes como te sentes
to get too high, too far, too soon ao chegares demasiado alto, demasiado longe, demasiado cedo
You saw the whole of the moon tu viste a lua toda
The whole of the moon...  toda a lua...
Unicorns and cannonballs, palaces and piers Unicórnios e balas de canhão, palácios e cais
trumpets, towers and tenements trompetes, torres e cortiços
wide oceans full of tears oceanos cheios de lágrimas
flags, rags, ferryboats, scimitars and scarves bandeiras, trapos, balsas, cimitarras e cachecóis
every precious dream and vision underneath the stars cada sonho precioso e visão sob as estrelas
You climbed on the ladder tu subiste a escada
with the wind in your sails com o vento nas tuas velas
you came like a comet  vieste como um cometa
blazing your trail com a chama no rastro
too high, too far, too soon demasiado alto, demasiado longe, demasiado cedo
You saw the whole of the moon ! tu viste a lua toda!
Written: New York January 1985 / London Feb 1985Mike Scott, from The Waterboys


A Helena Machado e o Guilherme leram, Papá por favor apanha-me a lua, de Eric Carle


A Paula leu:

A história da lua e do marinheiro
             
“Era uma vez um marinheiro que andava sempre na lua. Em lugar de andar num barco, como toda a gente (quer dizer, como todos os marinheiros), andava na lua.
Como se distraía pelo caminho, chegava todos os dias atrasado ao porto e perdia sempre o barco. Então sentava-se no cais com os pés a balouçar sobre a água e ficava longas horas a olhar para o céu.
- É além que eu ando, murmurava ele às vezes, fitando a lua. – Parece que estou aqui sentado, mas ando além…
Porém, ninguém o escutava. As pessoas passavam e diziam: “Lá está outra vez o marinheiro na lua!”
Um dia, o marinheiro tirou por momentos os olhos do céu e viu a lua em forma de barco, a seus pés, brilhando no mar.
- A lua!, disse ele surpreendido, levantando-se. – A lua veio ter comigo, há quanto tempo a esperava!
Desceu as escadas do cais até à água, meteu-se pelo mar dentro e subiu para a lua. Pôs-se ao leme, levantou a âncora, desfraldou as velas, e partiu para todos os sítios, indistintos e distantes, com que sempre sonhara.
Ninguém mais o viu. A gente do porto repara às vezes no seu lugar, agora vazio, no cais, e pergunta:
- Que será feito do marinheiro?
- Deve andar por aí, na lua – respondem.
E anda, nunca nenhum marinheiro teve barco tão bonito!”

Retirado do livro “Histórias que me contaste tu” de Manuel António Pina


O Daniel leu de Michael Grejniec, A que sabe a Lua


António Gil, leu do 5º acto, 1ª cena da peça "Os herdeiros da lua de Joana" da autoria de Maria Teresa Maia Gonzales

“Os Herdeiros da Lua de Joana”
Maria teresa Maia Gonzalez – Verbo Editora
ACTO V
CENA 1
Cenário - A sala da casa de Joana
(O Dr. Brito (pai de Joana) e o Diogo (irmão de Marta, amiga da Joana que também se suicidou) estão sentados na sala. Sobre a mesa de apoio ao sofá, há dois copos de refresco e as cartas de Joana, presas por um clipe.)
DR. BRITO
Folgo em saber que estás muito melhor, Diogo! Já há muito tempo que não te via.
A tua mãe tem-me dado notícias tuas, quando nos cruzamos à entrada do prédio ou no elevador.
DIOGO
(Acabando de dar um gole no refresco) Estive fora uns tempos, como deve ter sabido... Estive numa clínica de desintoxicação... Desta vez, acho que correu tudo bastante bem, doutor Brito. Sinto-me, realmente, melhor.
DR. BRITO
(Sorrindo com satisfação) É muito bom ouvirte dizer isso, rapaz! Parabéns!
DIOGO
Bem, eu não sei se 'tou completamente... curado. (Pausa breve) Temos de esperar para ver... Pra já, posso dizer que sinto mesmo que 'tou em recuperação. Nas outras clínicas, foi uma perda de tempo... (Pausa breve) De tempo e de dinheiro!...
DR. BRITO
Calculo... Mas isso agora não importa; o que interessa é que estás no bom caminho, não é verdade?
DIOGO
(Timidamente) Espero bem... (Pausa) Sabe, eu já era pra cá ter vindo... Nem fui ao funeral nem nada...(Pausa breve) A droga é lixada... (Cabisbaixo) “Tava completamente desatinado, percebe?
DR. BRITO
Estavas doente, foi por isso, com certeza. De qualquer maneira, não penses mais nisso, Diogo! Já lá vai!
DIOGO
(Erguendo o sobrolho, admirado) Já?...
DR. BRITO
Bem, foi uma maneira de falar... É claro que ainda estarmos todos muito afectados, como podes compreender... passaste pelo mesmo com a tua irmã...
DIOGO
(Cabisbaixo) Já... Só que eu nunca pensei que a Joana...
DR. BRITO
Ninguém pensou. Foi esse o nosso erro...
DIOGO
(Inclinando-se no cadeirão para ver o baloiço que continua no mesmo lugar) E aquilo ali? Não 'tava no quarto da Joana?
DR. BRITO
Estava sim, rapaz... Era a lua dela.. não sabemos o que fazer dela... A Joana estava tão ligada àquele baloiço!
DIOGO
(surpreendido) 'Tava?
DR. BRITO
Sim. (Pausa breve) Eu só descobri isso... isso e muitas outras coisas importantes, depois de ler o que ela deixou escrito...
DIOGO
(Surpreendido) A Joana deixou uma carta... assim tipo carta de... despedida, foi? Não imaginava...
DR. BRITO
Não, Diogo. A Joana escrevia, nos últimos anos, cartas, muitas cartas...
DIOGO
(Surpreendido) Escrevia-lhe cartas... a si?!
DR. BRITO
Não a mim... (Pausa breve) Eram dirigidas à tua irmã.
DIOGO
(Incrédulo) À minha irmã?! À Marta?! E ela já tinha morrido?
DR. BRITO
Já, rapaz, já... Eu sei que parece estranho, mas a Joana sentia-se muito desamparada, percebes? Não tinha com quem falar, depois que a tua irmã faleceu; assim, foi a maneira que ela encontrou de se sentir menos só...
DIOGO
(Indignado) Fogo! Nunca pensei! Ela devia 'tar na pior! (Pausa) A Joana nunca aceitou a morte da minha irmã... Eu fartei-me de lhe dizer para ela não pensar mais naquilo que tinha acontecido, mas ela teimava em puxar o assunto... (Pausa) Mas... e ela escrevia a contar o quê?...
DR. BRITO
O que se ia passando de importante na vida dela, na cabeça dela... Foi assim que comecei a conhecer a minha filha Diogo... Só assim! (Pausa breve) E vi que tu foste importante para ela...
DIOGO
(Acanhado) Nem por isso... Acho que a Joana só queria ver-me para falar da Marta... Sei lá... Julgo que gostava de ir lá a casa para, de alguma forma, se sentir mais perto da Marta.
DR. BRITO
(Pensativo) Talvez. Elas eram muito amigas.
DIOGO
Éramos amigos os três... Amigos de infância... (Sorri) Amigos de sempre! Quando éramos pequenos e íamos os três à praia com a minha mãe, divertíamo-nos à brava... Ríamo-nos por tudo e por nada! Gozávamos com tudo... (Pausa) Mas, depois, eu não soube ser o amigo que ela precisava. (Pesaroso) Agora, sei que a devo ter decepcionado muito...
DR. BRITO
Não foste só tu, Diogo. (Eleva um pouco o tom de voz.) Eu também! E nem fazíamos ideia disso, não é? (Suspira) Às vezes, sem darmos conta, estamos tão longe daqueles que amamos...
DIOGO
(Acenando afirmativamente) Pois estamos...
DR. BRITO
(Pausadamente) Temos de aprender com os nossos erros, sobretudo os que nos custam mais caro, não é?
DIOGO
(Cabisbaixo) É...
DR. BRITO
Quando quiseres desabafar, podes contar comigo, Diogo, estás a ouvir? Não faças cerimónia! (Pausa breve) Sabes, eu agora tenho uma outra noção do tempo; uma outra noção das prioridades...
DIOGO
(Acanhado, levanta-se) Bem, eu até gostava de ficar aqui mais tempo a conversar consigo, mas fiquei de passar em casa de uma amiga...
DR. BRITO
(Levantando-se) Claro, claro, compreendo. Eu acompanho-te à porta.
(Saem ambos)


A Mariana trouxe, de Arvedes Ferrer, "Olá sou a Lua"


Pela Teresa, tivemos uma versão mais, do Rondel do Alentejo, de Almada Negreiros.


A Delfina trouxe, de Sophia de Mello Breyner Andresen, "História da Gata Borralheira"


A Rosa, leu, O menino da Lua


A Alexandra Ferreira trouxe-nos um, exercício de poesia sobre a lua (vários autores)



O sorteio



E houve bolo



quarta-feira, 11 de julho de 2012

Próxima Sessão: 2012.07.17

O tema da sessão será LUA

A responsável pela sessão será a Alexandra Ferreira

terça-feira, 10 de julho de 2012

2012.07.10 - Caminhos




Rosa leu: Caminho da Vida.


Vitória leu: Por Todos os Caminhos do Mundo, de Fernando Namora


Alexandra Ferreira, Pelos Caminhos de Portugal, de Mário Gil


A Mariana trouxe-nos A ilha dos Amores, um excerto do Canto IX de "Os Lusíadas" de Camões


António Gil, leu do autor carioca Sérgio Trouillet - "Os Caminhos do Horizonte".


Carmen, trouxe: Susanna Tamaro, Excertos do livro Vai Aonde Te Leva o Coração

Partiste há dois meses e há dois meses, exceptuando um postal onde me comunicavas que ainda estavas viva, que não tenho notícias tuas.
Como as coisas mudam com os anos? Quando tinha a tua idade dormia como uma pedra, se ninguém me perturbasse era capaz de dormir até há hora do almoço.
Ontem, estava tão cansada que não consegui escrever nada, nem ler.
Esta manhã, para tentar arejar um pouco o que há entre mim e ela, entre mim e as recordações, fui dar um passeio pelo jardim.
Depois de ter verificado o estado de saúde da tua rosa, fui cumprimentar a nogueira e a cerejeira, as minhas árvores preferidas.
O vento de ontem fez uma vítima, encontrei-a esta manhã durante o passeio do costume pelo jardim.
Estava amarela e tinha os lábios contraídos.
De facto, na noite passada havia lua cheia! E se a lua pode remover os mares e fazer crescer mais depressa a chicória na horta, porque é que não havia de ter o poder de influir também nos nossos humores?
Das poucas coisas que sou capaz de fazer, não há uma única que me permita estar calma, que me permita desviar por um instante os pensamentos das lembranças tristes.
Desde que te foste embora que não leio o jornal, não estás cá tu para o comprar e ninguém mo traz.
Lá bem no fundo, muito no fundo, na parte mais ingénua e mais trágica de mim, talvez também eu espere que, mais tarde ou mais cedo, no coração da noite, alguém me telefone para saudar do além.
Encolhi os ombros. Os jovens não são naturalmente egoístas, tal como os velhos não são naturalmente sábios.
Quando se é criança, gosta-se muito de ir ao sótão, mas quando se é velho, não. Tudo o que era mistério, aventurosa descoberta, transforma-se em dor da recordação.
Então, respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que viste o mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar.
Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar.

(CAMINHO feito utilizando um parágrafo de cada uma das cartas do livro)

Frases do livro em italiano:


Xana Justino, excerto de "A casa do pó", de Fernando Santos


Vasco, de Alexandre O`neill

Pelo alto Alentejo-1

Os homens desertaram destas terras.
Só um bacoco,a rufiar com a sombra,
só um bacoco,bolsado das tabernas,
em sete palmos,só,se reencontra.
Turistas fotografam cal e pedras:
o cubismo de casas e ruelas.
Nas soleiras sobraram umas velhas.
Escorre-lhes o preto pelas canelas.
Num caixote com rodas ,meigo tolo,
-um que não veio,aos ésses,lá das Franças,
passar com os velhotes as vacanças-
preso a um fio de cuspo,vende jogo.
Eu e a Teresa procuramos queijo.
O melhor que se traz do Alentejo.


Helena Machado, leu um excerto de O diário de um mago, de Paulo Coelho


Paula, leu excerto de O caderno de Maya de Isabele Allende,


Daniel e Henrique, com um trabalho alternativo,

Henrique – Olá Daniel!
Daniel – Viva Henrique!
Henrique – Então, bro, já foste de Férias?
Daniel – Ainda não. A minha mãe, este ano, não se consegue decidir. É que com a Troika as coisas estão difíceis. A cota levou com a ripa e não recebeu o subsídio de férias, ‘tás a ver? Não sabes a música:
Tantos anos a estudar para acabar desempregado
Ou num emprego da treta, mal pago
E receber uma gorjeta que chamam salário
Eu não tirei o Curso Superior de Otário
...não é por falta de empenho
Querem que aperte o cinto mas nem calças tenho
Ainda o mês vai a meio já eu 'tou aflito
Oh mãe fazias-me era rico em vez de bonito.
(Daniel pede a todos que cantem o refrão)
É sexta-feira
Suei a semana inteira
No bolso não trago um tostão
Alguém me arranje emprego
Bom bom bom bom
Já já já já.
Henrique – Então o melhor é fazerem como os meus pais: “Vão para fora, cá dentro!”.
Daniel – É capaz de ser uma boa ideia. Para mudar de ares e conhecer o nosso lindo Portugal. Vamos fazer as malas, entrar na Vanessa (ou seja, no nosso Nissan Almera 33-09-VN) e dirigirmo-nos à Ponte Vasco da Gama. Por favor, dica N.º 1.
Dica N.º1 (Lisboa | Arquitetura) * Ponte Vasco da Gama – ponte sobre o Tejo inaugurada a 29 de março de 1998 é a mais longa da Europa e é atualmente a nona mais extensa de todo o mundo. Na sua inauguração foi servida uma feijoada que teve direito a inscrição no Guinness World Records. O nome da ponte comemora os 500 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia, em 1498. É uma das mais altas construções de Portugal, com 155 m de altura.
Daniel – Ora, fazendo de conta que já estamos do lado de lá, margem norte do Tejo, o que fazemos agora?
Henrique – Olha Daniel, e se dessem um salto a Santarém?
Daniel – Boa ideia, Henrique. É caso para dizer: “Vamos nessa, Vanessa?” Venha daí a dica n.º 2!
Dica N.º2 (Santarém | História) * Conquistada por D. Afonso Henriques apresentava o nome de Scalabis, nome romano para designar a antiga cidade. Tem origens místicas, Greco-Romanas e Cristãs. Depois das invasões dos Alanos e Vândalos, a cidade passou a chamar-se Santa Irene. Esta cidade terá sido contactada ainda por Fenícios, Gregos e Cartagineses. Os habitantes de Santarém são os escalabitanos.
Henrique – E se dessem um salto a Leiria? Esta cidade conheço eu bem porque tenho lá muita família!
Daniel – Bem, se tu aconselhas, bora lá espreitar! Salte a dica N.º 3.
Dica N.º3 (Leiria | Natureza) * Pinhal de Leiria ou Pinhal do Rei é uma floresta portuguesa com 1741 km quadrados. O pinhal foi inicialmente mandado plantar pelo rei D. Afonso III (e não por D. Dinis como se julga habitualmente) no século XIII, com o intuito de travar o avanço e degradação das dunas, bem como proteger os terrenos agrícolas. O rei D. Dinis estimulou o seu aumento para próximo das dimensões atuais. O pinhal de Leiria foi muito importante para os Descobrimentos Marítimos, pois a madeira dos pinheiros foi a usada para a construção das embarcações.
Daniel – Não fazia ideia disso! É sempre bom saber, sobretudo porque adoro História!
Henrique – Olha, Daniel, já que estás em Leiria, que tal dares um salto a Coimbra! Esta cidade tem muitos encantos! Por favor, dêem-nos a dica n.º 4!
Dica N.º4 (Coimbra | Educação) * Coimbra é chamada de "Cidade do Conhecimento" ou "Cidade dos estudantes", por ter uma das mais antigas e prestigiadas universidades da Europa. Nos dias correntes, a Universidade tem cerca de 21 000 alunos, contando com alguns dos mais seletivos e exigentes programas académicos do país, um elevado número de unidades de investigação e tendo cerca de 10% de alunos estrangeiros de 70 nacionalidades diferentes, sendo assim a mais internacional das universidades portuguesas.
Daniel – Uau! Não imaginava! Quem sabe Henrique, se um dia não vamos até lá fazer os nossos estudos!
Henrique – Nunca se sabe Daniel! Deixa-me perguntar-te uma coisa: és guloso?
Daniel – Um bocadinho! Tens alguma sugestão?
Henrique – Claro! E quem ta vai dar é quem tiver a dica n.º 5!
Dica N.º5 (Aveiro | Gastronomia) * Ovos-moles de Aveiro - Doce regional, tradicional da pastelaria aveirense, cuja fórmula e método de produção original se deve às freiras dos vários conventos aqui existentes até ao século XIX - dominicanas, franciscanas a carmelitas. As religiosas utilizavam a clara de ovos para engomar os hábitos, enquanto as gemas, para que não fossem desperdiçadas, eram usadas na feitura do doce. A sua venda é feita por mulheres usando trajes regionais.
Daniel – Sempre me abriste o apetite! Já marchava um docinho desses!
Henrique – Então, não marchava?! Bem, mas como também devemos pensar nos nossos pais, que tal estares atento à próxima dica?
Daniel – Vamos lá! Já estou a ficar curioso! Dica n.º 6, please!
Dica N.º6 (Viseu | Enografia) * A Região Demarcada do Dão foi instituída em 1908 e tem cerca de 20 000 hectares de vinha que se estende por vários distritos. Esta região produz, maioritariamente, Vinhos Tintos caracterizados por possuírem um teor alcoólico médio de 12ºC, uma inimitável coloração rubi, corpo redondo e consistência aveludada na boca. Convenientemente envelhecidos tornam-se mais macios e suaves, adquirindo um esplendoroso "bouquet".
Daniel – Não te sabia conhecedor de vinhos, meu caro!
Henrique – Bem, eu gosto de surpreender! Mas como ainda temos um longo caminho, vamos mudar de tática! Dica n.º 7 e….
Daniel e Henrique – GOOOLLLOOO!
Dica N.º7 (Porto | Futebol) * Setembro de 1893. Do nada, de uma ambição secreta, nascia um Futebol Clube do Porto. Os fundadores garantiram um lugar especial num clube que já se pressentia especial. O seu arrojo fê-los escolher o azul e o branco para cores do clube. Apostavam na tranquilidade e na pureza e mantinham-se fiéis aos princípios, cultural e desportivo. Conquista após conquista, o FC Porto foi ganhando fôlego. Tornou-se grande, somou títulos e surpreendeu o país e o Mundo.
Daniel – Por esta é que eu não esperava! Então tu não sabes que eu sou do Sporting???
Henrique – Claro que sei! Mas, Daniel, eu sou do Benfica e se há algo que tenho aprendido é a ter um espírito desportivista!
Daniel – É isso aí Henrique, Fair Play acima de tudo! E que tal passarmos para aproxima jornada? Ora rematem daí a dica N.º 8!
Dica N.º8 (Distrito de Braga | Cidade de Guimarães) * Desde 21 de janeiro que Guimarães é capital europeia da cultura. Até ao final do ano, um vasto programa cultural animará a cidade minhota que tem também para mostrar um dos mais belos centros históricos portugueses, classificado pela UNESCO. São cerca de 600 eventos que se desdobram por todas as áreas da cultura, entre a música, a dança, o cinema, o teatro, as artes plásticas. Uma cidade que se abre ao futuro sem renegar as suas origens medievais!
Daniel – Os vimaranenses devem estar orgulhosos da sua cidade e todos nós temos razões para isso!
Henrique – Sem dúvida Daniel! Então, e estás cansado de viajar?
Daniel – Nada disso! Mostra-me mais!
Henrique – Mergulhemos na dica n.º9!
Dica N.º9 (Viana do Castelo | Religião) * O Santuário de Santa Luzia localiza-se no alto do monte de Santa Luzia e é um dos ex libris da cidade. Permite uma vista ímpar da região, que concilia o mar, o rio Lima com o seu vale, e todo o complexo montanhoso envolvente, panorama considerado um dos melhores do mundo segundo a National Geographic. O santuário é servido pelo Elevador de Santa Luzia e o acervo é constituído por talha, imagens, azulejos, entre outros.
Daniel – É sempre bom saber! Os meus avós é que gostam muito de visitar todas as igrejas e capelinhas!
Henrique – Então vou dar-te outra dica. Tenho a certeza que os teus avós também vão adorar! Dica n.º 10!
Dica N.º10 (Vila Real | Artesanato) * Barro preto de Bisalhães, típico de Vila Real, é um dos seus principais produtos de artesanato. O barro seca ao sol, depois é picado e peneirado. É amassado, ficando maleável para fabricar as peças. Depois da peça estar feita vai para a sombra e mais tarde para o sol para secar. É cozido no forno a 800ºC e abafa-se com terra preta durante três a quatro horas. Há grande variedade de peças: o pote, a pichorra, a cafeteira, as ânforas e os potinhos e tudo tem utilidade.
Daniel – Ufa! Até fiquei cansado com a explicação! Realmente dá muito trabalho!
Henrique – Ficaste cansado? Não é caso para isso! A solução está na Dica n.º 11!
Dica N.º11 (Bragança | Transportes) * Daniel se estás em Bragança tens as seguintes estradas para circular: IP4, EN15 ou A4. Contudo, se preferires há o Aeródromo de Bragança. Não gostas de viajar de avião? Então vai de comboio! Ai espera lá Daniel. Parece que não dá: Bragança não tem comboio desde o início da década de 1990 quando a linha do Tua foi encerrada. Aconselho-te, antes, a viajares de camioneta!
Daniel – Pronto, já apanhei boleia! Sabes o que me apetecia mesmo?? Saber umas curiosidades sobre outro distrito de Portugal!
Henrique – Ok! Então vamos começar a descer: Dica n.º 12!
Dica N.º12 (Guarda | Curiosidades) * Conhecida pela cidade dos 5 F’s, a sua origem tem várias explicações. A mais consensual é que estes significam: Forte, Farta, Fria, Fiel e Formosa. Forte: a torre do castelo, as muralhas e a posição geográfica demonstram a sua força; Farta: devido à riqueza do vale do Mondego; Fria: a proximidade à Serra da Estrela explica este F; Fiel: porque Álvaro Gil Cabral – que foi Alcaide-Mor do Castelo da Guarda - recusou entregar as chaves da cidade ao Rei de Castela durante a crise de 1383-85. Formosa: pela sua natural beleza.
Daniel – Mas que interessante! É coisa para não me esquecer mais! E falando de clima, o que me dizes do próximo distrito?
Henrique – Não sejas apressado, olha os limites de velocidade! Quem sabe o clima do próximo distrito é quem tiver a Dica n.º 13!
Dica N.º13 (Castelo Branco | Clima) * O clima no concelho é temperado mediterrâneo e é influenciado pela continentalidade pelo que apresenta pouca humidade ao longo do ano. A localização, numa zona transitória entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico, leva a que a temperatura média do ar ronde os 15,7 °C. A precipitação é mais abundante de Outubro a Janeiro com valores acima dos 100mm.
Daniel – Óh Henrique, parece que estás a adivinhar chuva!
Henrique – Chuva? Não obrigado! Mudamos é de tema e de região, já! Dica n.º 14!
Dica N.º14 (Portalegre | Personalidade) * Trindade Coelho, escritor, natural de Mogadouro, a sua obra reflete a infância passada em Trás-os-Montes. O seu estilo natural, a simplicidade e candura de alguns dos seus personagens, fazem dele um dos mestres do conto português. Disse dele próprio: "Eu não sei escrever a frio, não escrevo por querer escrever; e até quando caio nessa tolice, rasgo tudo quanto faço. Eu escrevo do pescoço para baixo. O assunto para mim há-de ser uma emoção. Se Ihe dou tempo de se converter em ideia, arrefece e não dá nada".
Daniel – Fiquei impressionado com a frase: “Escrevo do pescoço para baixo!”.
Henrique – E, por falar em baixo, já viste como estamos a descer cada vez mais? Estamos quase no baixo Alentejo, queres ver? A dica n.º 14, se faz favor!
Dica N.º15 (Évora | Património histórico) * O centro histórico de Évora é Património Mundial desde 1986. Alguns dos principais monumentos são: o templo romano, um dos monumentos mais importantes de Portugal, foi parte do fórum romano; a Sé Catedral, é uma das catedrais medievais mais importantes do país; a Igreja de São Francisco, cuja arquitetura e decoração mistura os estilos gótico, mudéjar e manuelino; a Capela dos Ossos: inteiramente forrada com ossos humanos.
Daniel – Ena! Parece ser uma cidade impressionante! Com muitos lugares para conhecer!
Henrique – E do património para a economia? Apetece-te um salto no tema?
Daniel – Claro! Desde que seja um salto seguro! Salte, então a dica n.º 16!
Dica N.º16 (Beja | Economia) * As principais fontes de rendimento deste distrito são os serviços, o comércio e a agricultura, destacando-se a cultura do trigo, olival e vinha. A cidade está pouco industrializada, mas tem muito potencial para o ser. Estão instaladas duas importantes Empresas Públicas: a EDIA - Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva, SA. e a EDAB - Empresa para o Desenvolvimento do Aeroporto de Beja, S.A..
Daniel – Fontes de rendimento! Isso dava jeito, dava!
Henrique – Mas o próximo distrito é muito rico em fontes de rendimento, queres ver?
Daniel – Então não hei-de querer!
Henrique – Dica n.º 17!
Dica N.º17 (Faro | Turismo) * Venha a Faro e conheça as praias e a Ria Formosa, onde esvoaçam flamingos, que fazem fronteira com o mar. Nos campos planos, a mancha do casario, o verde das hortas cultivadas, as armações das noras que são herança dos mouros. Colinas suaves em anfiteatro, onde nascem árvores de fruto, enquadram em fundo a paisagem. Aldeias, onde a vida tem o ritmo tranquilo de séculos, mostram tesouros de arte, desvendam testemunhos da magnificência de nobres romanos.
Daniel – Olha que isto foi virtual mas sinto-me um bocadito cansado.
Henrique – Estou a ver! Queres regressar a casa)
Daniel – Pode ser. Mas para ganhar embalagem, e já que vamos para o nosso distrito, que tal contar uma anedota do Bocage?
Dica N.º18 (Setúbal | Bom humor)
Henrique – Conheces a do Bocage e o ladrão de patos?
Daniel – Conta lá!
Henrique – Conta-se que Bocage, ao chegar a casa um certo dia, ouviu um barulho estranho vindo do quintal. Chegando lá, constatou que um ladrão tentava levar os seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar saltar o muro com os seus amados patos, disse-lhe:
Daniel – Oh, bucéfalo anácrono! Não te interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando os meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo... mas se é para zombares da minha elevada prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com a minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
Henrique – E o ladrão, confuso, diz: - Doutor, afinal levo ou deixo os patos?
Daniel – Áhhhhh! Bem, e saindo de Setúbal, pergunta lá à minha mãe o que acontece no próximo fim-de-semana?
Paula – Entre os dias 13 e 17 de Julho realizam-se no Samouco as Festas em honra de Nossa Senhora do Carmo que nestes dias atraem à Vila centenas de pessoas que assistem aos diversos espetáculos musicais e participam ativamente nas diferentes iniciativas que integram a programação. Entre espetáculos musicais, exposições, atividades desportivas e infantis, a Noite da Sardinha Assada e as tradicionais largadas de toiros são muitos motivos de interesse que convidam a uma visita a esta freguesia do Concelho de Alcochete. Venham daí!



domingo, 8 de julho de 2012

Caminhos do Luxemburgo

E directamente do Luxemburgo, com os cumprimentos do João, da Lena e da Teresa:



segunda-feira, 2 de julho de 2012

Próxima Sessão: 2012.07.10

O tema da sessão será CAMINHOS

A responsável pela sessão será a Paula

2012.06.26 - Mar


Helena Pinto
de José Saramago
As infinitas águas (in Viagem a Portugal)



Mariana

de Jorge Amado
Os velhos marinheiros ou Capitão de longo curso



Cristina e Catarina
de Maria Alberta Meneres
Búzio



Xana Justino e Fernando
de Manuel Bandeira
A onda

A Alexandra J. começou por dizer que o convidado dela não podia estar e portanto teria de lhe ligar.
Marcou um número e passados uns instantes começou a ouvir-se no outro lado da sala esta música no telefone do Fernando que pediu desculpa por ter de atender:

Fernando - a onda anda
Alexandra - aonde anda a onda?
Fernando - a onda ainda
Alexandra - ainda ondaFernando - ainda anda aonde?
Alexandra - aonde?
Fernando- a onda a onda
(e desligou)
(Alexandra também desligou)
Alexandra - A onda
Fernando - Manuel Bandeira


Lena Policarpo e António - Um conto de Mia Couto "O peixe e o homem" in O fio das missangas.
ilustração de Horacio Gatto

Pois que fez Santo António? Mudou somente o púlpito e o auditório […]. Deixa as praças, vai ás
praias; deixa a terra, vai ao mar e começa a dizer altas vozes:
já que não me querem ouvir os homens,
ouçam-me os peixes. Oh, maravilhas do Altíssimo!
Oh, poderes do que criou o mar e a terra!
Começam a ferver as ondas, começam a concorrer
os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos,
e postos todos na sua ordem com as cabeças
de fora da água, António pregava e eles ouviam.
(extracto do Sermão de Santo António, do Padre António Vieira.)

Um dia destes, quando saía de casa, deparei com meu vizinho, Jossinaldo. Estava no patamar, como que me esperando. Dos braços cruzados, espreitava uma trela. Me arrepiei. Sempre eu o tinha evitado, por causa dos ditos e desditos. O homem era conhecido pelo que fazia no parque: levava um peixe a passear pela trela. Caminhava na margem do lago, segurando a trela. No extremo da fita de couro estava amarrado, pela cauda, um gordo peixe. Jossinaldo era, nos gerais, tido por enjeitado; a cabeça do coitado, diziam, cabia toda num chapéu. e acresce-se que o temiam, sem outro fundamento que essa estranheza do seu fazer.

E agora lá estava ele, a tira pendente como uma língua que lhe emergia do corpo. Já eu remastigava uns apressados bons dias quando o vizinho se me interpôs e esticou o braço na minha direcção.

- Peço-lhe este favor!

Estremeci, receoso. Que favor? Era esse mesmo obséquio: o de ir eu substituí-lo no passeio ao peixe. Esquivei-me. O homem não desistiu: que ele estava-se sentindo doente, desvanecente e o peixe do lago não podia ficar orfão, sem ninguém para o conduzir, na fluência das águas.

- Por amor, não recuse!

Fiquei vacilando enquanto, dentro de mim, ecoavam os rumores que descontavam em Jossinaldo e seus descostumes. No bairro todos acreditavam compreender o comportamento do exótico morador. Meu tio, por exemplo, deitava o seguinte entendimento:

Que o vizinho havia sido um pescador e, agora, arrependido, aplicava graças nesse peixe doméstico. A culpa de tanto anzol lhe espetava a alma e ele se redimia, penitente.

Meu avô discordava. Aquilo, para ele, tinha outras, mais fundas explicações.

Não ouvíramos falar do sermão de Santo António aos peixes? Recordávamos o que fizera o Santo António que deixara o auditório das praças e se deslocara para o mar, lançando palavra sobre os seres de guelra e escama. Pois Jossinaldo descobrira que havia sido o inverso: um certo peixe havia pregado aos homens e lhes espalhara a moral sem lições. Os homens atribuíam aos peixes as indecorosas ganâncias que eram da exclusiva competência humana. Adjectivavam a peixaria: os mandantes do crime são chamados de “tubarões”. Os poderosos da indecência são “peixe graúdo”. Os pobres executantes são o “peixe miúdo”. E afinal, onde não há crime é lá dentro das águas, lá é que há a tal de propalada transparência. Pois, quem pregava o sermão, o Santo António aquático era o próprio peixe do lago. Era ele o sermonista.

Minha sabedoria é ignorar as minhas originais certezas. O que interessa não é a língua materna, mas aquela que falamos mesmo antes de nascer. Por isso, me dei licença de escutar Jossinaldo. E fui saindo de casa, caminhando ao mesmo passo do afamado vizinho, lado com lado. Na rua, me olhavam surpresos. Então eu autorizava a companhia do proscrito, no pleno da via pública? Debaixo dos olhares, nos dirigimos ao parque e parámos junto ao lago.

- Veja como ele vem a correr.

E era a maior verdade. O peixão, na vista do vizinho, se aproximou da berma. Jossinaldo debruçou-se e enlaçou a trela á volta da cauda do animal.

- Vá, pegue na trela para ele lhe ganhar familiaridades.

Com o coração de fora, lá segurei na corda. O bicho veio á superfície da água e me olhou com olhos, até me custa escrever, com olhos de gente. E remergulhando me conduziu ele a mim, pela margem. Contornei por inteiro a lagoa para me reencontrar com Jossinaldo.

- Deixe-me despedir dele!

Ajoelhado sobre as águas, o vizinho falou palavras que não eram de língua nenhuma conhecida. Ficou, tenho medo de dizer, conversando com o peixe. Ergueu-se Jossinaldo, lágrima escorrendo, e me apertou as mãos, as duas em duplicado. Não falou, retirou-se em silêncio.

Sou eu agora quem, pela luz das tardes, passeia o peixe do lago. À mesma hora, uma misteriosa força me impele para cumprir aquela missão, para além da razão, por cima de toda a vergonha. E me chegam as palavras do vizinho Jossinaldo, ciciadas no leito em que desfalecia:

- Não existe terra, existem mares que estão vazios.

Dentro de mim, vão nascendo palavras líquidas, num idioma que desconheço e me vai inundando todo inteiro.



Paula, o Daniel, o Henrique e o João, leram O Bojador de Sophia de Mello Breyner Andressen


Promontório de Sagres (0)
Ao fundo, sozinho, voltado para o mar, vestido de escuro está o Infante D. Henrique.
Está sentado numa pedra, ligeiramente curvado para a frente, com o queixo apoiado na mão direita e o cotovelo direito apoiado no joelho direito […].
No primeiro plano […] falam e movem-se as outras personagens. […]
Entra uma mulher com uma criança (que é um rapazinho de sete anos).

CRIANÇA (apontando com o dedo o Infante) – Mãe, o Infante (1), o que é que ele está ali a fazer, sozinho, a olhar para o mar?
MULHER – Está a ver.
CRIANÇA – Mas não se vê nada. É só mar (2).
MULHER – Ele vê melhor do que nós.
CRIANÇA – Ah? Eu pensava que ele não via. No outro dia encontrei-o no caminho e disse: «Bom dia, meu Senhor». Mas ele não me viu.
MULHER – Ele vê bem o que está longe.

(Enquanto acabam de falar entra um velho com barbas compridas e brancas (3).)

VELHO – Era melhor que visse o que está perto. […] Do mar não vem nem glória nem proveito.

(Entra um rapaz de vinte anos que ouve a última frase.)

RAPAZ – Tens a certeza, Velho?
VELHO – Todos os anos ele manda para o Sul as suas barcas (4). E diz aos capitães: «Ide mais longe.» Mas já ninguém pode ir mais longe.

RAPAZ – Tens a certeza, Velho?
VELHO – […] Nunca ninguém passou além do cabo Bojador (5).
CRIANÇA – Onde é o Bojador?
VELHO (sentando-se numa pedra e apontando vagamente para o mar) – Além, ao Sul, na costa de África (6), no mar.
CRIANÇA – E não se pode ir além do Bojador?
VELHO – Não.
CRIANÇA – Porquê?
VELHO – Porque é ali que acaba o Mundo. Do outro lado do Cabo, o calor é tanto que as águas fervem e se transformam em lama. É ali que começa o mar Tenebroso (7). O ar está cheio de nevoeiros negros. Não se vê a luz do Sol. E ondas de lodo estão cheias de grandes monstros marinhos (8).
RAPAZ – Isso são lendas inventadas pelo medo dos Mouros.
VELHO – Mas também nos livros antigos de Ptolomeu (9) e nos livros dos Romanos está escrito que ninguém pode passar além do Bojador.
RAPAZ – Isso dizem os Antigos. Temos que ir nós próprios saber o que é verdade.
VELHO – Mas, que diz a experiência dos mareantes das Espanhas? Que dizem todos os navegadores? […] Dizem […] que barco que ali chegue logo será devorado pelos abismos do mar.
RAPAZ – Velho, e eu digo-te isto: Gil Eanes (10), com a sua barca, passará além do Bojador.
MULHER – Então por que recuaram eles, no ano passado?
VELHO – Porque havia a bordo homens de experiência e juízo que não quiseram avançar para a morte certa.
RAPAZ – Porque pararam primeiro nas Canárias (11) e gente dessa ilha lhes contou velhas histórias fantásticas e mentirosas.
MULHER – Dizem que o Infante repreendeu muito Gil Eanes…
RAPAZ – O Infante repreendeu-o por ele ter recuado em frente de umas lendas boas para assustar crianças.
CRIANÇA – E que fez Gil Eanes?
RAPAZ – Este ano partiu outra vez.
MULHER – E dizem que à partida jurou que só voltaria a Portugal (12) quando tivesse dobrado o Cabo.
VELHO – E por causa dessa promessa ele nunca voltará a Portugal. Há já muito tempo que partiram. Com certeza Gil Eanes já cumpriu a sua palavra. A esta hora já ele dobrou o Cabo. E já as ondas de lodo engoliram a sua barca e já as serpentes verdes do Tenebroso o comeram, a ele e aos seus homens. Fez-se a vontade do Infante. Mas Gil Eanes nunca voltará a Portugal.

(O velho levanta-se e dá um passo em frente.)

VELHO – Nunca ninguém voltou do Bojador.
CRIANÇA (puxando a saia da mãe e apontando o mar, com o braço estendido) – Mãe, mãe, olha, além no mar, toda branca, uma barca. Vem uma barca no mar (13).
RAPAZ (dá uns passos em frente e olha o mar) – É Gil Eanes. Voltou.

Carta do Infante D. Henrique de Portugal (14) a seu irmão o Infante D. Pedro de Portugal (14).
O Infante (ditando devagar, e parando um instante no fim de cada período).

Meu muito amado irmão,
Primeiro que a ninguém vos quero dar esta notícia. Pois esta obra de navegação antes de ser obra foi ideia. E a ideia foi vossa e minha. Juntos, na nossa juventude, ambos pensámos esta grande empresa: mandar barcos para o mar para saber o que havia.
Por isso agora acaba de chegar aqui Gil Eanes, que dobrou o Cabo Bojador. E do outro lado do Cabo não encontrou nem temporal desencadeado, nem correntes irresistíveis, nem vagas de lama, nem nevoeiros negros. Encontrou o mar aberto e livre à sua frente e encontrou uma terra luminosa e nua. Aqui termina a lenda do Tenebroso. Fomos além do medo, das lendas e da ciência dos Antigos. Dobrámos o Cabo onde acabava o mundo. Aqui terminam as eras antigas e começa uma idade nova.

 Sophia de Mello Breyner Andresen, O Bojador, Lisboa, Editorial Caminho, 2000

(texto com supressões)


Vitória - Novos e outros ventos de Francisco José Viegas in Metade da Vida

Às vezes gostaria de estar no sitio onde as ondas
morrem na areia e desfazer-me em espuma.
Aí, perder-me para sempre, como se não existisse
nada senão a altura das árvores,
ou perder-me para sempre por nada ser para sempre,
nada eterno ou cristal como a eternidade
de morrer e inventar uma casa.
Os ventos frios vão e vêm. São pássaros,
como as marés que vão de um rio a outro
e voltam à mesma água.


Carmen - Quanto vale uma torneira? de Isabel Gorjão Santos (ACEP)




Sobre esta praia...

Fernando - Oito meditações à beira do Pacífico de Jorge de Sena
Pergunto-me a mim mesmo – tão curioso
como a criança a ser-se adolescente
que mal se entende em como os corpos agem -
a que diversos jogos ou não-jogos
se dão na intimidade estes que vejo
inteiramente nus no areal da praia
entre uma escarpa que os esconde e o mar
que tudo aceita em ondas sucessivas.
Deitados no saber de ao sol queimarem
o mais oculto de si mesmos são
dois jovens e uma jovem misturados.
Um dos rapazes se recosta contra o corpo
do outro rapaz que alonga dorso e pernas,
enquanto neste se debruça e dobra,
pendendo os frescos seios e os cabelos,
o corpo feminino associado ao de ambos.
Mas nada indica excitação nos machos
de quem se pousa o sexo ou distendido pende
em de sereno indiferente como
a só vazia ausência de mistério
que a corpos dava um fervor quente e humano.
São, como deuses, animais sem cio?
Ou são, como animais, humanos que se aceitam?
Ela é de quem? De um deles só, dos dois?
Um deles será dela mas também do outro?
Será cada um dos três dos outros dois?
Ambos os machos serão fêmeas do outro?
Ou só um deles? Qual dos dois? O que
sentado se recosta? O que deitado
aceita contra o seu o corpo recostado?
Os três são muito belos, e não só
daquela de escultura juvenil audácia
cifrada em curvas duras de suaves linhas,
mas igualmente da pureza límpida
que só em torno ao sexo se enegrece um pouco.
Quem se pergunta como eu me pergunto
confessa claramente que distância
existe entre o passado e este presente
assim deitado ao sol à beira de água
como estes três se deitam ou recostam
sem que sequer com as mãos os sexos toquem,
senão o de outrem, mesmo o de si mesmos.


Paulo Machado - Morte ao meio dia de Ruy Belo