terça-feira, 1 de janeiro de 2013

2013 - Sessões de Janeiro



Terça-feira, dia 15
Tema: Alcochete
(Dia de celebração da restauração do Município)


Responsável pela sessão: João Morais





Terça-feira, dia 29
Tema: Estado Zen


Responsável pela sessão: Cármen






LUZ

Sessão de 27-11-2012
Tema Luz




Responsável:  Mila




António Gil

O Mistério da Vela
Um ioguim vivia numa casinha nos subúrbios de uma cidade. Ao cair da noite,
saia para o campo e sentava-se a ler as escrituras com uma candeia de azeite,
deixando antes uma vela acesa no chão, a uma curta distancia de si. As
gentes da localidade começaram a ficar intrigadas com aquele ritual que se
repetia noite após noite. Que misterioso significado teria o acender aquela vela
a tão curta distancia? Que tipo de ritual estaria a pôr em prática aquele
ioguim? Será que tudo aquilo era necessário para recitar os textos sagrados?
Seria um ritual mágico? Todos comentavam entre si e tudo eram suposições e
conjecturas, mas ninguém sabia ao certo por que todas as noites o ioguim se
servia da candeia de azeite para ler e acendia uma vela perto de onde se
encontrava. Pessoas das aldeias mais próximas começaram a ir até lá para ver
o ioguim misterioso. Debatiam todo o tipo de hipóteses e espalharam-se toda
a sorte de rumores. Para alguns era um grande mágico, para outros, um
desperto vivo. Para muitos, estava a fazer práticas especiais para guiar a
mente até ao transe, e para outros ainda, tratavam-se de rituais para
despertar as forças sobrenaturais. Havia opiniões para todos os gostos. O
ioguim inspirava tanta curiosidade naqueles que o contemplavam, que cada
dia eram mais e mais, que decidiram organizar uma comitiva para ir falar com
ele e perguntar-lhe a razão do que fazia. Assim, certa noite, o alcaide da
localidade e várias pessoas interromperam o ioguim na sua leitura dos textos
sagrados para lhe perguntar:
- Senhor, pelo amor de Shiva, rogamos-lhe que nos esclareça por que acende
uma vela perto de si enquanto lê à luz da candeia. É alguma cerimónia
sagrada, um ritual mágico, uma técnica especial para treinar e mente, um
sortilégio antigo?
O ioguim sorriu com um ar entre o compassivo e o irónico, e disse:
- Ponho essa vela para que as traças e os mosquitos sejam atraídos para a sua
luz e não me incomodem tanto. Nada mais, boa gente.
Numa ocasião, Buda reuniu os seus discípulos e deu-lhes um sermão muito
breve, seguramente um dos mais breves e, no entanto, um dos mais
significativos que alguma vez transmitiu um mestre.
Limitou-se a dizer-lhes: “Venham e vejam”. Não lhes disse “venham e
julguem”, ou “venham e interpretem”, ou “venham e suponham”, ou ainda
“venham e façam conjecturas”. Não, simplesmente “venham e vejam”. Vejam
o que é; liguem-se com o que há. Não com o que esperamos ou tememos ver,
ou queremos imaginar que é, ou vemos através dos nossos filtros e do nosso
condicionamento.
Apenas: vem e olha.
*Ramiro Calle – Os melhores contos espirituais do Oriente – a esfera dos livros – Maio 2006















Texto da Helena Policarpo

BEIRA-MAR
(Sofia de Mello Breyner Andersen - Outubro de 1997)

Mitológica luz da beira-mar
A maré alta sete vezes cresce
Sete vezes decresce o seu inchar
E a métrica de um verso a determina
Crianças brincam nas ondas pequeninas
E com elas em brandíssimo espraiar
Em volutas e crinas brinca o mar








Texto da Helena Policarpo e do António Soares.

RESPOSTA NA TARDE ESCURA
(Crónica de Batista Bastos no Diário de Notícias de 21/11/2012)


Não me apetece escrever sobre estes tipos. Digo à Isaura. 
Não escrevas, sempre fizeste o que te apeteceu, diz ela. Não é bem assim, digo. Estamos na sala, por detrás dos vidros um pouco embaciados, e a chuva toca-os de leve. A tarde está escura e começam a acender-se as primeiras luzes, na rua e nos prédios.
Anoitece muito cedo; tarde escura, suja, como o País, escuro, sujo, nocturno e triste. Olho-a. Ela mantém-se aparentemente alheada, mas não o está. Sempre muito atenta, mesmo quando parece suspensa. Sorri agora. Conheço-a desde que ambos éramos novos e tínhamos a idade daquele nosso mundo. Eu estava desempregado, coisas da política, e metera-me noutras. Ela sabia de tudo e andávamos de mãos dadas, sem receio e alegres.
Sempre fizeste o que te apeteceu, repete. Como os nossos filhos, obstinados e recalcitrantes. Mas ganhei, penso. Os outros julgam que não, que perdi, mas a verdade é que foram eles os vencidos, estão lá, impantes e brunidos, porem vencidos. Mereceu a pena tanta luta, tanto desafio, tanto perigo, vertigem e desatino para chegarmos a isto? A Isaura não o diz: observa-me e afaga-me no rosto e na cabeça. Não é preciso mais nada.
Põe os pés na terra; voas em excesso e sonhas em demasia, dizes-me, frequentemente, mas sem me recriminar. Agora jó não tanto, mas houve vezes em que me esquecia de ter dinheiro, da carteira, e tu colocavas-me alguns trocos nos bolsos. Aqui há tempos, descobri, no bolsinho da lapela, uma nota velha de vinte escudos. Rimo-nos. Ainda sobrava um pouco, apesar de tudo. Nada de amolgar a esperança. A principal virtude da vida é ela estar sempre em acrescento, e nada, mas nada mesmo, é definitivo. Atrás de tempos, tempos virão.
Está bem: mas os anos não param, nem sequer um bocadinho. E eu sinto-me envelhecer. E estou na idade do condor; com dor aqui, com dor ali, com dor acolá. Ora, ora, os anos são somente números. Um dia, li que a vida feliz é, ao mesmo tempo, longa e breve. Até falámos nisso, recordo-me bem, tinhas sido operado a uma chatice grave, a família estava preocupada, e tu, antes de entrar no bloco operatório, piscaste-me o olho e disseste: quero arroz de polvo para o jantar.
Mas sabíamos para aonde íamos. Isso dizes tu agora. Nunca ninguém sabe para onde vai. Sobretudo os da nossa condição. Os processos de demolição da consciência humana são cíclicos. Ora, ora. Ora, ora, não. As coisas são o que são e são mesmo assim. Mesmo nas épocas mais infelizes , citavas Hemingway. “O homem não nasceu para a derrota. O homem pode ser vencido, mas nunca destruído.” Olha, tocaram à campaínha da porta. Esqueci-me de te dizer que os nossos netos vêm aí com os pais.
Estão jubilosos. Nota-se pelo brilho nos olhos. Ele endireitou os ombros que haviam descaído. Ela ajeitou o cabelo com as mãos. Caminham para a porta.        











Vitória

Vinicius de Moraes : Pela luz dos olhos teus

Letra e música: Vinicius de Moraes
versos de segunda
Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar

Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.








Por fim, há hábitos do "clube de leitura" que não se dão por esquecidos:
- Petiscar.