quarta-feira, 20 de junho de 2012

Próxima Sessão: 2012.06.26

O tema da sessão será MAR

A responsável pela sessão será a Cecília

terça-feira, 12 de junho de 2012

2012.06.12 - Lendas


O Daniel começou com um texto da sua autoria: "A Mensagem"







A Carmen leu: A lenda de Tavira  




A Mila leu: A Lenda de Macau - de "As mãos de Lam Sang", da autoria de Alice Vieira



A Helena Policarpo e o António, recuperaram de Alexandre Herculano; A Lenda A Dama Pé de Cabra



A DAMA PÉ-DE-CABRA - ( Metade da primeira trova, de um total de três,do século onze, das Lendas e Narrativas recolhidas por Alexandre Herculano).

Vós os que não credes em bruxas, nem em almas penadas, nem em tropelias de Satanás, assentai-vos aqui ao lar, bem juntos ao pé de mim, e contar-vos-ei a história de D, Diogo Lopes, senhor de Biscaia.
E não me digam no fim: - “não pode ser.“ - Pois eu sei cá inventar coisas destas? Se a conto. É porque a li num livro muito velho. E o autor do livro velho leu-o algures ou ouviu-a contar, que é o mesmo, a algum jogral em seus cantares.
É uma tradição veneranda; e quem descrê das tradições lá irá para onde o pague.
Juro-vos que, se me negais esta certíssima história, sois dez vezes mais incrédulos do que S. Tomé antes de ser grande santo.
E não sei se eu estarei de animo de perdoar-vos como Cristo lhe perdoou.
Silêncio profundíssimo; porque vou principiar.

D. Diogo Lopes era um infatigável monteiro: neves da serra no inverno, sois dos estevais no verão, noites e madrugadas, disso se ria ele.
Pela manhã cedo de um dia sereno, estava D. Diogo em sua armada, em monte selvoso e agreste, esperando um porco montês, que, batido pelos caçadores, devia sair naquela assomada.
Eis senão quando começa a ouvir cantar ao longe: era um lindo, lindo cantar.
Alevantou os olhos para uma penha que lhe ficava fronteira: sobre ela estava assentada uma formosa dama: era a dama que cantava.
O porco fica desta vez livre e quite; porque D. Diego Lopes não corre, voa para o penhasco.

“Quem sois vós, senhora tão gentil; quem sois, que logo me cativastes?

“Sou de tão alta linhagem como tú; porque venho do semel de reis, como tú senhor de Biscaia.”

“Se já sabeis quem eu seja, ofereço-vos a minha mão , e com ela as minhas terras e vassalos.”

“Guarda as tuas terras, D. Diogo Lopes, que poucas são para seguires tuas montarias; para o desporto e folgança de bom cavaleiro que és. Guarda os teus vassalos, senhor de Biscaia, que poucos são eles para te baterem a caça.”

“Que dote, pois, gentil dama, vos posso eu oferecer digno de vós e de mim; que se a vossa beleza é divina, eu sou em toda a Espanha o rico-homem mais abastado?”

“Rico-homem, rico-homem, o que eu te aceitaria em arras coisa é de pouca valia; mas, apesar disso, não creio que mo concedas; porque é um legado de tua mãe, a rica-dona de Biscaia.”

“E se eu te amasse mais que a minha mãe, porque não te cederia qualquer dos seus muitos legados?”

“Então, se queres ver-me sempre ao pé de tí, não jures que farás o que dizes, mas dá-me disso a tua palavra.”

“Á fé de cavaleiro, não darei uma; darei milhentas palavras.”

“Pois sabe que para eu ser tua é preciso esqueceres-te de uma coisa que a boa rica-dona te ensinava em pequenino e que, estando para morrer, ainda te recordava.”

“De quê, de quê, donzela? De nunca dar tréguas á mourisca, nem de perdoar aos cães de Mafamede? Sou bom cristão. Guai de ti e de mim, se és dessa raça danada!”


“Não é isso, dom cavaleiro. O de que eu quero que te esqueças é o sinal da cruz: o que eu quero que me prometas é que nunca mais hás-de persignar-te.”

“Isso agora é outra coisa”- respondeu D. Diogo, que nos folgares e devassidões perdera o caminho do céu. E pôs-se um pouco a cismar.

“De que servem benzeduras? Matarei mais duzentos mouros e darei uma herdade a Santiago. Ela por ela. Um presente ao apóstolo e duzentas cabeças de cães de Mafamede valem bem um grosso pecado.

“Seja assim: está dito. Vá, com seiscentos diabos.”

E, levando a bela dama nos braços, cavalgou na mula em que viera montado.
Só quando á noite, no seu castelo, pôde considerar miudamente as formas nuas da airosa dama, notou que tinha os pés forcados como os da cabra.

Dirá agora alguém; - Era, por certo, o demónio que entrou em casa de D. Diogo Lopes. O que lá não iria! - Pois sabei que não ia nada.
Durante anos, a dama e o cavaleiro viveram em boa paz e união. Dois argumentos vivos havia disso: Inigo Guerra e Dona Sol, enlevos ambos de seu pai.



Henrique leu: Os Ferreiros de Penela   





A Cecília leu: Lendas de Portugal – XLII Alcochete - Quanto a comida quer o sal ...


Cada filha era uma formosura e o rei quis saber quanto elas gostavam dele. Juntou-as e fez-lhes a pergunta. A mais velha, sabendo que o pai gostava de palavras bonitas, respondeu:

 "Amo tanto o meu pai como a luz cintilante das estrelas!"

O rei ficou contente e voltou-se para a filha do meio, que lhe disse:

"Meu pai, amo-o tanto como ao raio da lua cheia que se reflecte nas águas do mar!"

Muito agradado pela maneira como a filha falara, aguardou a resposta da mais nova:

"Quero tanto a meu pai quanto a comida quer o sal..."

Já o rei não gostou nada desta resposta e, colérico, ordenou:

"Filha ingrata, sai do palácio!"

 Muito triste, a princesinha foi-se embora, levando consigo apenas o anel que comprovava a sua qualidade. Atravessou todo o reino, percorreu outro e outro, até que chegou a um reino longínquo. Aí ouviu um arauto proclamar que estavam a querer contratar uma ajudante de cozinha para o palácio real. E a princesinha conseguiu que lhe dessem esse lugar. E ali, humildemente, fez o que nunca fizera na vida, lavando panelas, descascando batatas, aprendendo a cozinhar.

Ora quando o jovem rei desse reino fez anos, a princesinha fez um bolo e meteu dentro o seu anel. E ele, ao abrir o bolo encontrou-o e logo viu que pertencia a pessoa real. Chamou logo o mordomo principal do palácio e ordenou-lhe que descobrisse a quem pertencia o anel. Depois de algumas investigações, levaram-lhe a ajudante de cozinha.

O rei ficou admirado com a beleza da menina e perguntou-lhe quem era. Ela contou ao rei como ali tinha ido parar. Mas tanto como a história o impressionou, o monarca apaixonou-se pela linda menina e pediu-a em casamento, o que ela aceitou.

Anunciando o noivado, fizeram-se os convites. Seria um grande banquete na véspera do casamento e que toda a comida fosse bem temperada excepto para um lugar, onde seria servida sem sal, destinando-se este lugar ao rei pai da princesinha. E quando chegou a altura do repasto, todos comiam satisfeitos excepto o pai da jovem, que fazia caretas a cada garfada. Por fim, deixou de comer. Como lhe perguntassem se não gostava das iguarias, respondeu, relutante:

"A minha comida não tem pitada de sal..."

 O rei que ia casar com a filha dele observou:

"Mas não foi Vossa majestade que repudiou uma filha por lhe ter dito que lhe queria tanto quanto a comida quer o sal?!

O rei caiu em si e compreendeu que tinha sido extremamente injusto com a filha que, afinal de contas, tanto o amava!

Apareceu então a princesa e pai e filha abraçaram-se. Então, ele, porque gostava muito do pai, logo ali lhe perdoou.. E lá se fez o casamento e os dois reinos ficaram amigos.


A Helena Machado leu José Jorge Letria: O alimento do amor  




A Xana Justino leu José Jorge Letria: A Deusa que esculpiu o Homem




E a Cristina presenteou-nos com a sua espectacularidade e recitou:
RUY BELO - Na morte de Marilyn






Morreu a mais bela mulher do mundo
tão bela que não só era assim bela
como mais que chamar-lhe marilyn
devíamos mas era reservar apenas para ela
o seco sóbrio simples nome de mulher
em vez de marilyn dizer mulher
Não havia no fundo em todo o mundo outra mulher
mas ingeriu demasiados barbitúricos
uma noite ao deitar-se quando se sentiu sozinha
ou suspeitou que tinha errado a vida
ela de quem a vida a bem dizer não era digna
e que exibia vida mesmo quando a suprimia
Não havia no mundo uma mulher mais bela mas
essa mulher um dia dispôs do direito
ao uso e ao abuso de ser bela
e decidiu de vez não mais o ser
nem doravante ser sequer mulher
O último dos rostos que mostrou era um rosto de dor
um rosto sem regresso mais que rosto mar
e toda a confusão e convulsão que nele possa caber
e toda a violência e voz que num restrito rosto
possa o máximo mar intensamente condensar
Tomou todos os tubos que tinha e não tinha
e disse à governanta não me acorde amanhã
estou cansada e necessito de dormir
estou cansada e é preciso eu descansar
Nunca ninguém foi tão amado como ela
nunca ninguém se viu envolto em semelhante escuridão
Era mulher era a mulher mais bela
mas não há coisa alguma que fazer se certo dia
a mão da solidão é pedra em nosso peito
Perto de marilyn havia aqueles comprimidos
seriam solução sentiu na mão a mãe
estava tão sozinha que pensou que a não amavam
que todos afinal a utilizavam
que viam por trás dela a mais comum imagem dela
a cara o corpo de mulher que urge adjectivar
mesmo que seja bela o adjectivo a empregar
que em vez de ver um todo se decida dissecar
analisar partir multiplicar em partes
Toda a mulher que era se sentiu toda sozinha
julgou que a não amavam todo o tempo como que parou
quis ser atá ao fim coisa que mexe coisa viva
um segundo bastou foi só estender a mão
e então o tempo sim foi coisa que passou.


O João leu: Gilles, ainda te recordamos




Escrever sobre Gilles Villeneuve é, para mim, ainda hoje, uma questão de paixão: lembrá-lo torna-se quase doloroso, pois nunca mais vi nenhum outro piloto entregar-se da forma como ele fez, como ele só sabia fazer, à sua paixão - pilotar um automóvel, fosse ele qual fosse, nos limites absolutos. Mas, afinal, quem foi Gilles Villeneuve? Como nasceu a semente desta paixão.

Gilles Villeneuve estreou-se no dia 16 de Julho de 1977. menos de um mês depois, em Agosto, Enzo Ferrari falou dele: até no seu físico miúdo e nervoso, mas principalmente na sua entrega, no seu coração do tamanho do mundo e na sua enorme coragem, fazia-lhe lembrar o seu piloto mais querido Tazio Nuvolari.

(Em 1982*) San Marino foi o palco da sua célebre zanga com Didier Pironi, seu colega de equipa e que ele considerava como um irmão, depois de o francês o ter passado, vencendo a corrida contra as ordens de equipa. Então, chegou a quinta prova do Mundial, o G.P. da Bélgica, no circuito de Zolder. No último treino de qualificação, estava mais lento 0,1s que Pironi; a oito minutos do final, a seguir à primeira chicane, encontrou Jochen Mass a rodar muito mais lento, com o March. Este viu o Ferrari a aproximar-se e, na entrada para a curva, chegou-se para o lado direito, dando a linha ideal. Ao mesmo tempo, Villeneuve decidiu passar o carro mais lento pelo lado direito. O embate foi inevitável e violento, entre os 200 e 225 km/h; catapultando no ar, o Ferrari caiu de nariz na pista, cerca de 100 metros mais adiante, desintegrando-se. Ainda fixo ao banco, mas já sem capacete, o piloto foi lançado contra as redes de protecção. Vários pilotos pararam no local e John Watson e Derek Warwick retiraram Villeneuve das redes, com o rosto já azul. O primeiro médico chegou 35 segundos depois e encontrou o piloto sem respirar, mas ainda com o coração a bater. Entubado, foi levado primeiro ao centro médico da pista e depois, de helicóptero, para o hospital da Universidade de São Rafael, onde foi confirmada uma fractura no pescoço. Quando Joann (sua esposa*) chegou, as máquinas foram desligadas. Eram 21h12m e Gilles Villeneuve viveu 32 anos - mais dois do que aqueles que ele dizia ter, desde que falsificou a data de nascimento para parecer mais novo perante Enzo Ferrari.

Escritas para sempre, ficaram as palavras que ele tinha dito, ainda nessa mesma manhã: "Nunca penso que me posso magoar seriamente. Se pensar que isso pode suceder, como posso fazer o meu trabalho? Nunca se conseguirão ganhar oito décimos se estivermos a pensar num acidente, nunca conseguiremos ser tão rápidos como podemos ser. E se não conseguirmos fazer isso, então não somos pilotos de automóveis!"

Sobre ele, um chocado Jody Scheckter afirmou: "Vou sentir a falta do Gilles por duas razões. A primeira, porque era o homem mais rápido de sempre na história do desporto automóvel. A segunda, porque era o homem mais genuíno que alguma vez conheci"

(excerto de texto publicado na edição nº3 Maio/2012 do Autosport, da autoria de Marques dos Santos)
*(notas adicionais)


A Rosa, leu: As Estações   






A Alexandra Ferreira, leu, através de um registo de Bárbara Guimarães: Lenda da Serra da Estrela




A Paula trouxe-nos: Sir Gawain e a Dama Repugnante, de Tim Bowley



Vitória leu: Lenda do Reino de Atlântida  




Nas grandes civilizações da antiguidade dizia-se que para além das Colunas de Hércules, hoje Estreito de Gibraltar e onde agora se estende o Atlântico, dominava o poderoso império dos Atlantas.

Esse império era constituído por uma federação de dez reinos, sob a protecção de Poséidon, pelo que os Atlantas eram exemplares no seu comportamento, não se deixando corromper pelo vício e pelo luxo.

Toda a Atlântida era sonho e delícia. A terra produzia madeiras preciosas; havia minas de metais nobres; o clima excepcional favorecia uma agricultura florescente; as casas e palácios evidenciavam conforte e riqueza; havia estradas e pontes óptimas; e o desafogo económico proporcionava o aparecimento de sábios e artistas.

Todos se compraziam apenas em gozar e explorar as riquezas do seu reino, mas não deixavam de se ensaiar na arte da guerra.

Assim não foi difícil aos Atlantas defenderem o seu território dos ataques daqueles que, levados pela inveja, ansiavam conquistar a tão prodigiosa Atlântida. De tal modo se portaram na defesa da terra que o orgulho desabrochou e deu-se pela primeira vez a ambição de alargar os domínios do reino.

O poderoso exército atlanta alastrou por todo o mundo conhecido de então e dominou os povos. Inebriados pelo tempo, deixaram-se dominar pelo orgulho e pela vaidade, caindo no luxo e na corrupção, desrespeitando os deuses.

Zeus convocou um consílio para que se aplicasse um castigo aos Atlantas, agora tão depravados. Em consequência , a terra tremeu violentamente, o céu escureceu como se fosse noite, o fogo lambeu as florestas, o mar galgou a terra e engoliu aldeias e cidades.

A Atlântida e toda a sua prosperidade desapareceram para sempre na imensidão do mar, mas nove dos montes mais altos dessa linda terra ficaram a descoberto. Muitos anos mais tarde essas pequenas ilhas, restos do grande continente, foram povoadas e são hoje as 9 ilhas dos Açores que, pelo seu clima bonançoso e bom, pela beleza da sua paisagem, lembram a próspera Atlântida.



Helena Pinto leu: A Lenda de Alcochete   



A lenda de Melusina

por
Helena R.
adaptado da tradição oral Luxemburguesa



Conta-se que Melusina foi esposa do fundador do Luxemburgo, o conde Siegfried (Sigfroid, em Luxemburgês), que em 963 comprou os direitos feudais desta região. Quando casaram, depois de magicamente fazer aparecer o castelo do Bock, ela fez-lhe um pedido especial: em cada mês ele não deveria perguntar onde ela estava ou o que fazia durante um dia e uma noite. 


Melusina era tão bela, que ele não lhe pôde negar esse pequeno desejo, e tudo correu bem durante muitos anos, quando na primeira quarta-feira de cada mês, Melusina se retirava para os seus aposentos nas "casemates" (uma rede de túneis escavados na rocha, debaixo da cidade alta), e só era vista na manhã seguinte.


Mas um dia a curiosidade de Sigfroid foi superior às suas forças. Perguntando-se o que estaria ela a fazer sozinha, espreitou por um buraco e ficou chocado quando viu que Melusina estava na banheira e que uma cauda de peixe saia pela borda. As sereias, como Melusina, têm um sexto sentido muito apurado, e ao aperceber-se que o seu marido a observava, saiu pela janela e lançou-se no rio Alzette que passa no fundo do vale. Nunca mais ninguém a viu, mas ainda hoje se conta que de sete em sete anos, Melusina aparece, belíssima, nas águas do Alzette. Trás com ela uma chave de ouro e quem a conseguir pode dizer-se seu noivo. 






o Bock, e as casemates escavadas na rocha

o rio Alzette