quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Próxima sessão: 2013.02.26

Tema Teatro


Responsável pela sessão

Alexandra Justino

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

2013.02.12 - Carnaval

E foi mesmo um Carnaval






Fernando, trouxe:

Excerto de "A tabacaria" de Álvaro de Campos

(...)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para àquem do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
(...)



O poema completo


A Helena Policarpo e o António Soares, leram




A FELICIDADE
Vinícios de Morais

Tristeza não tem fim,
Felicidade sim.

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar.
Voa tão leve
Mas tem a vida breve,
Precisa que haja vento sem parar.

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do Carnaval.
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou de jardineira
E tudo se acabar na quarta-feira.

Tristeza não tem fim,
Felicidade sim

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor.
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor.


A felicidade é uma coisa boa
Mas tão delicada também.
Tem flores e amores
De todas as cores,
Tem ninhos de passarinhos,
Tudo de bom ela tem.
E é por ela ser assim tão delicada
Que eu trato dela sempre muito bem.

Tristeza não tem fim,
Felicidade sim.

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite, passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre com o dia
Oferecendo beijos de amor.

O João leu


Sonho de um Carnaval
Chico Buarque

Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano

Carnaval, desengano
Essa morena me deixou sonhando
Mão na mão, pé no chão
E hoje nem lembra não
Quarta-feira sempre desce o pano

Era uma canção, um só cordão
E uma vontade
De tomar a mão
De cada irmão pela cidade

No carnaval, esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança



Uma excerto da interpretação teatral da Alexandra Justino, com o texto completo em Link, Máscaras de  Menotto del Picchia



COLOMBINA  com ternura: 

     Como te amo, Pierrot... 

      
    ARLEQUIM 

      E a mim, cujo desejo te abriu o coração com a chave do meu beijo? A tua alma era como a Bela Adormecida: o meu beijo a acordou para a glória da vida! 

    CALOMBINA  fascinada: 

   Como te amo, Arlequim!... 

      PIERROT 

     desvairado pelo ciúme, apertando-lhe os pulsos,  
     numa voz estrangulada:  

      A incerteza que esvoaça desgraça muito mais do que a própria desgraça. Escolhe entre nós dois... Bendiremos os fados sabendo o que é feliz, entre dois desgraçados! 

      ARLEQUIM 

Dize: Queres-me bem? 

      PIERROT: 

   Fala: gostas de mim? 

     COLOMBINA, hesitante: 

 A Pierrot: 

  Eu amo-te , Pierrot... 

      A Arlequim: 

       ... Desejo-te, Arlequim... 

    ARLEQUIM, soturnamente: 

A vida é singular! Bem ridícula, em suma... Uma só, ama dois... e dois amam só uma!.. 

   COLOMBINA , sorrindo e tomando ambos pela mão: 

Não! Não me compreendeis... Ouvi, atentos, pois meu amor se compõe do amor de todos dois... Hesitante, entre vós, o coração balanço:  
  

   A Arlequim: 

O teu beijo é tão quente...                         

        A Pierrot: 

       O teu sonho é tão manso... 

Pudesse eu repartir-me e encontrar minha calma dando a Arlequim meu corpo e a Pierrot a minh’alma!  Quando tenho Arlequim, quero Pierrot tristonho, pois um dá-me o prazer, o outro dá-me o sonho!  
Nessa duplicidade o amor todo se encerra: um me fala do céu... outro fala da terra!  
Eu amo, porque amar é variar, e em verdade toda a razão do amor está na variedade...  
Penso que morreria o desejo da gente, se Arlequim e Pierrot fossem um ser somente,  
porque a história do amor pode escrever-se assim:  

    PIERROT  
Um sonho de Pierrot... 

    ARLEQUIM  
       
     E um beijo de Arlequim! 

A Alexandra Ferreira, trouxe cheiros do Carnaval do Brasil, aqui fica a lembrança



O António Gil e a Ana Maria leram:

“A Viagem de Théo” - Catherine Clément – Edições ASA - 1999



No confortável camarote do comandante Silva, o almoço esperava. Logo desde as entradas, Théo atacou.
- Parece que o teu primo é brasileiro de gema...
- Brutus? - espantou-se o comandante. - quem é que te disse?
- A tia Marthe, quem havia de ser? Porquê?
O comandante deu uma gargalhada. Brutus era brasileiro; portanto, não era «de gema», porque a expressão não tinha nenhum significado no Brasil. É certo que tinha um nome português, Silva, ao qual um belo dia se tinha vindo juntar um «Carneiro» que soava bem. Os arquivos portugueses da família atestavam, de facto, que um Silva havia emigrado para o Brasil no tempo das caravelas, depois nada mais se sabia do ramo americano. Produto de um casamento entre a genealogia portuguesa e uma bela Greta de família alemã emigrada no início do século XX, o primo Brutus afirmava que tinha sangue índio nas veias na sequência de uma ligação entre um antepassado seu e uma princesa de uma tribo, como Pocahontas. Porque ter sangue índio era chique no Brasil: descender de um indígena provava uma mestiçagem de alto nível entre o conquistador branco e o índio na sua dignidade de primeiro habitante do país. Mas o primo Brutus evitava explicar de onde lhe vinham os cabelos encarapinhados e a boca carnuda, porque no Brasil, quando se era de boas famí1ias, não se admitia ter sangue negro.
Tenho a certeza de que o antepassado português se apaixonou por uma das suas escravas africanas - concluiu o comandante. - O primo Brutus insiste de tal modo na ausência de qualquer gota africana no sangue que lhe corre nas veias que acaba por provar o contrário!
- Que salganhada - disse Théo. Descender dos índios é melhor? Porquê?
Ah! Porque os índios não eram escravos, bem pelo contrário! É claro que, ao princípio, tinham sido muito maltratados. Mas depois, um missionário de grande coração que se chamava Las Casas apercebera-se, a tempo, de que os seus concidadãos, tão bons católicos, escravizavam os delicados selvagens de coração puro, que não resistiam aos trabalhos forçados e morriam às centenas. Decidido a travar o genocídio cometido pelos seus compatriotas e consciente de que a caridade de Jesus não estava a ser praticada, o excelente Las Casas teve uma ideia de génio: convenceu o soberano a substituir os índios por escravos negros, mais sólidos, mais bem adaptados ao duro trabalho das colónias. De boas intenções está o inferno cheio e Las Casas não previra o deslocamento, para outras paragens, do genocídio que depois veio a denunciar em vão. Foi assim, a partir da perversão de uma ideia generosa, que começou o tráfico dos negros entre a Europa e a América.
- Mas os portugueses foram para a cama com as escravas africanas que tinham? - disse Théo.
E não só! A colonização portuguesa assentava num principio simples: tomar
mulher no local onde se desembarcava. No Brasil, havia portanto mestiços de negros e brancos, de negros e índios, de índios e brancos. E as religiões tinham-se misturado por intermédio das mulheres. Às índias, os brasileiros tinham ido buscar os deuses animais das florestas, o Curupira, génio dos bosques com dentes verdes, a extravagante Caipora fumadora de cachimbo e que cavalga nua um porco do mato, ou o Boro vermelho do rio Amazonas, um golfinho sedutor que engravidava as mulheres. De África, as brasileiras haviam herdado os deuses encolhidos nos porões dos navios negreiros, um panteão vindo do amigo reino de Daomé, hoje Benim. Obrigados a baptizarem-se, os escravos africanos fixaram o culto dos santos católicos, que caldearam alegremente com os seus próprios deuses. De tal modo que as religiões do Brasil formavam um carnaval desenfreado em que a dança e os tambores dominavam, que o mesmo é dizer a poderosa África.
- O batuque, tia Marthe! exclamou Théo. - Fixe!
Sim, o batuque. Assim recomeçara a lenta reconquista de África pelos escravos africanos. Os senhores eram implacáveis mas bons economistas. Ora, os escravos suicidavam-se engolindo terra: não era rentável. Para evitar tais prejuízos, os senhores autorizaram os escravos a bater nos tambores. Começaram os batuques: todos os tambores de África reunidos. Os deuses saíram das memórias escondidas com as línguas africanas. Depois surgiram secretamente os altares e as cerimónias clandestinas, hoje oficiais. Um dia dos idos de 1870, os africanos desceram as colinas do Rio e invadiram a cidade com os tambores. Foi o primeiro Carnaval.
Carnavais e procissões religiosas, tinha-as havido faustosas em Portugal. Para além do clero paramentado, desfilavam santos, diabos, imperadores, reis e rainhas, ferreiros, macacos, Vénus, Baco, São Sebastião crivado de flechas, São Pedro, São Tiago e Abraão. Essas loucas procissões emigraram com os portugueses. Os africanos adoptaram os reis e as rainhas, bordaram nos seus estandartes os totens, depois os distintivos sindicais e inflamaram o Carnaval com as suas danças e os seus tambores. As escolas de samba floresceram, o Carnaval brasileiro tornou-se célebre. A África ressuscitou pouco a pouco, de tal modo que converteu os brancos: eram inúmeros a partilhar os cultos africanos do Brasil. E quando não eram adeptos da África, voltavam-se para os índios, a quem iam buscar as plumas e os símbolos.
- Os índios legaram aos brasileiros as redes de descanso, o milho, o tabaco, as bolas de borracha e o costume de tomar banho nos rios - acrescentou a tia Marthe.
- E os africanos, o óleo de palma, o cafuné, o picante, os turbantes, os berloques, as contas de vidro! - disse o comandante Silva. - Sem esquecer a influência dos africanos muçulmanos. É por isso que o Brasil me agrada. Sentimo-nos no entroncamento do mundo...
- Diga ao Théo qual é a divisa que está escrita na bandeira do Brasil - sugeriu a tia Marthe.
- Tem razão. Num país onde se confundem desordenadamente o índio, o negro e o branco, a divisa brasileira afirma nobremente: «Ordem e Progresso».
- Sabes de onde vem, Théo? - perguntou a tia Marthe. - De uma espécie de religião inventada por um filósofo francês do século XIX, Auguste Comte. Às religiões de Deus, ele decidira contrapor a da Humanidade, que baptizou com o nome de «positivismo». Eram positivas as Ciências da sociedade, rigorosamente mantidas pelo encadeamento dos factos. Depois redigiu um Catecismo Positivista...
- Catecismo? espantou-se Théo. - E por que não um culto, já agora...
- Mas foi o que ele fez! Com um calendário que festejava Moisés, Carlos Magno, Descartes, o Proletariado e as Mulheres... Os fundadores da República do Brasil eram fervorosos discípulos de Auguste Comte: daí a divisa. Ainda se vêem no Brasil templos positivistas.
- Mais uma religião - concluiu Théo.
- Sem esquecer a saudade proferiu o comandante. - Um estranho sentimento um pouco triste, um pouco alegre, confiante e desesperado. Se não é uma religião, é um culto.
- O samba também - disse a tia Marthe.
- Vou gostar - disse Théo. - Mas o que é que vamos ver?
- Ah! Isso é um mistério... respondeu ele. - Mas os tambores estão garantidos.

A Cristina brindou-nos com mais um magnífica proeza trazendo-nos um texto de Clarice Lispector

Restos do Carnaval do livro Felicidade Clandestina


.
Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou para a minha infância e para as quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina e confete. Uma ou outra beata com um véu cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia que se segue ao carnaval. Até que viesse o outro ano. E quando a festa já ia se aproximando, como explicar a agitação que me tomava? Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu.
No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a um baile infantil, nunca me haviam fantasiado. Em compensação deixavam-me ficar até umas 11 horas da noite à porta do pé de escada do sobrado onde morávamos, olhando ávida os outros se divertirem. Duas coisas preciosas eu ganhava então e economizava-as com avareza para durarem os três dias: um lança-perfume e um saco de confete. Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.
E as máscaras? Eu tinha medo, mas era um medo vital e necessário porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara. À porta do meu pé de escada, se um mascarado falava comigo, eu de súbito entrava no contato indispensável com o meu mundo interior, que não era feito só de duendes e príncipes encantados, mas de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com os mascarados, pois, era essencial para mim.
Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente, ninguém em casa tinha cabeça para carnaval de criança. Mas eu pedia a uma de minhas irmãs para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me causavam tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos frisados pelo menos durante três dias por ano. Nesses três dias, ainda, minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser uma moça - eu mal podia esperar pela saída de uma infância vulnerável - e pintava minha boca de batom bem forte, passando também ruge nas minhas faces. Então eu me sentia bonita e feminina, eu escapava da meninice.
Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha e o nome da fantasia era no figurino Rosa. Para isso comprara folhas e folhas de papel crepom cor-de-rosa, com os quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de uma flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco à fantasia tomando forma e se criando. Embora de pétalas o papel crepom nem de longe lembrasse, eu pensava seriamente que era uma das fantasias mais belas que jamais vira.
Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado: sobrou papel crepom, e muito. E a mãe de minha amiga - talvez atendendo a meu mudo apelo, ao meu mudo desespero de inveja, ou talvez por pura bondade, já que sobrara papel - resolveu fazer para mim também uma fantasia de rosa com o que restara de material. Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma.
Até os preparativos já me deixavam tonta de felicidade. Nunca me sentira tão ocupada: minuciosamente, minha amiga e eu calculávamos tudo, embaixo da fantasia usaríamos combinação, pois se chovesse e a fantasia se derretesse pelo menos estaríamos de algum modo vestidas - àidéia de uma chuva que de repente nos deixasse, nos nossos pudores femininos de oito anos, de combinação na rua, morríamos previamente de vergonha - mas ah! Deus nos ajudaria! não choveria! Quando ao fato de minha fantasia só existir por causa das sobras de outra, engoli com alguma dor meu orgulho que sempre fora feroz, e aceitei humilde o que o destino me dava de esmola.
Mas por que exatamente aquele carnaval, o único de fantasia, teve que ser tão melancólico? De manhã cedo no domingo eu já estava de cabelos enrolados para que até de tarde o frisado pegasse bem. Mas os minutos não passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim! Chegaram três horas da tarde: com cuidado para não rasgar o papel, eu me vesti de rosa.
Muitas coisas que me aconteceram tão piores que estas, eu já perdoei. No entanto essa não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino é irracional? É impiedoso. Quando eu estava vestida de papel crepom todo armado, ainda com os cabelos enrolados e ainda sem batom e ruge - minha mãe de súbito piorou muito de saúde, um alvoroço repentino se criou em casa e mandaram-me comprar depressa um remédio na farmácia. Fui correndo vestida de rosa - mas o rosto ainda nu não tinha a máscara de moça que cobriria minha tão exposta vida infantil - fui correndo, correndo, perplexa, atônita, entre serpentinas, confetes e gritos de carnaval. A alegria dos outros me espantava.
Quando horas depois a atmosfera em casa acalmou-se, minha irmã me penteou e pintou-me. Mas alguma coisa tinha morrido em mim. E, como nas histórias que eu havia lido, sobre fadas que encantavam e desencantavam pessoas, eu fora desencantada; não era mais uma rosa, era de novo uma simples menina. Desci até a rua e ali de pé eu não era uma flor, era um palhaço pensativo de lábios encarnados. Na minha fome de sentir êxtase, às vezes começava a ficar alegre mas com remorso lembrava-me do estado grave de minha mãe e de novo eu morria.
Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns 12 anos, o que para mim significava um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos já lisos de confete: por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa.

E a Vitória leu: JÚLIO DINIS, Uma Família Inglesa, cap. III (excertos)



Na Águia de Ouro

Era uma das últimas noites do Carnaval de 1855.
Havia menos estrelas no céu do que máscaras nas ruas. Fevereiro, esse mês inconstante como uma mulher nervosa, estava nos seus momentos de mau humor, o folgazão Entrudo ria-se de tais severidades e dançava ao som do vento e da chuva, e sob o dossel de nuvens negras que se levantavam do Sul. Graças à cheia do Douro, a cidade baixa podia bem prestar-se naquela época a uma paródia do Carnaval veneziano.
À porta dos teatros apinhava-se a multidão. (…)
Numerosos grupos de espectadores paravam diante das exposições de máscaras à venda e tornavam o trânsito naquelas ruas quase impraticável (…)
A animação era geral na cidade
Todos corriam com ânsia... a enfastiarem-se, fingindo que se divertiam.
Alguma coisa também na Águia de Ouro, a anciã das nossas casas de pasto, a velha confidente de quase todos os segredos políticos, particulares e artísticos desta terra; alguma coisa havia nesta modesta casa amarela do Largo da Batalha, que desviava para lá os olhares de quem passava.(…)
Sob aparências de modéstia, a Águia de Ouro parecia desta vez aureolada de não sei que majestade, condigna do seu emblema.

Foi assim, desta forma que a Mariana falou seriamente sobre o carnaval,




E terminamos com mais uma iguaria que a Cristina nos ofereceu (Laranja e Chocolate!)

Salivem!





segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Próxima sessão: 2013.02.12

Tema Carnaval


Responsável pela sessão

Vitória